É tudo muito fantástico demais. Ali, na palma da mão, você tem o mundo ao seu dispor. Ali, na palma da mão, você pesquisa, diverte-se, aprende, comunica-se com o mundo inteiro, e informa-se, informa-se, informa-se. Para onde vai esse excesso de informação? E essa comunicação toda? Estamos realmente sendo mais próximos das pessoas, tendo mais amigos?
O fato é que a comunicação virtual está ganhando a parada. Estamos (e eu me incluo) cada vez mais viciados. E a pergunta é: quem ganha com isso? Nós? Temos mais qualidade de vida por isso? Temos vidas mais plenas graças a essa tecnologia? Estamos mais inteiros?
Não sei você, que me lê, o que dirá, mas a minha resposta é um taxativo NÃO. Não temos mais qualidade de vida, não temos vidas mais plenas, não estamos mais inteiros, ao contrário. Estamos mais divididos, fragmentados, com nossa mente flutuando entre os mais variados assuntos, vivendo cada vez mais o mundo mental, o mundo irreal. O vício do celular nos tira do presente, do aqui-e-agora. Estamos ali, mas não estamos. O corpo está ali, mas a mente vagueia.
Isso nos leva a perder a vida. Enquanto toda a nossa vida deveria ser um grande esforço para vivermos o presente, para vivenciarmos os detalhes, as nuances ao nosso redor... enquanto deveríamos desenvolver nossa percepção ao ponto de estarmos alinhados com o momento, afinados e sensíveis ao que ocorre junto de nós, estamos, ao contrário, cada vez mais dispersos, divididos, alienados.
Ontem, uma grande amiga escreveu-me dizendo que estava se despedindo do Facebook. Caiu em si que não estava dando conta e não queria aquilo perturbando a mente dela. Apresentei meus parabéns. Farei a mesma coisa breve.
E hoje, ao abrir esse mesmo Facebook, dei de cara com a excelente matéria a seguir, que vale a pena ler. E refletir. O que estamos realmente fazendo com as nossas vidas? Estamos virando idiotas obcecados por uma telinha de celular? "E que mundo é esse que parece já não surtir tanta graciosidade sobre os nossos olhos, que buscamos tão fervorosamente escapar, distraindo-nos?" - pergunta a autora do texto em questão.
Reproduzo a matéria a seguir.
Do homem no celular que não viu a baleia passar e o retrato de nossos tempos
(Texto de Grace Bender publicado originalmente em Conti
Outra - www.contioutra.com)
Há alguns dias li uma curiosa matéria publicada no site O
Globo sob o título: “Homem não vê baleia que passou do seu lado porque estava
enviando mensagens no celular” (leia aqui). De acordo com o texto, o rapaz em
seu veleiro perdeu um verdadeiro espetáculo da natureza: uma enorme baleia
jubarte passando a pouquíssimos metros da embarcação.
Confesso que quando passei o olhar ligeiramente sobre a
chamada, pensei que devesse se tratar de apenas mais uma das diversas notícias
duvidosas ou falaciosas que comumente circulam pelas redes sociais. Não era
possível! Como um homem não poderia perceber uma visita nada discreta e tão
rara?
Ao que tudo indica sim, é possível. A Aldeia Global de McLuhan parece realmente
ter se esfacelado. Ou não: ao mesmo tempo em que parecemos estar todos mais
próximos, seja por whatsapp, facebook, skype, sms, etc., paradoxalmente estamos
nos afastando do momento presente e de tudo aquilo que acontece ao nosso redor.
São os dois lados de uma mesma moeda, consequência da dinâmica de globalização
tecnológica.
De fato, já podemos observar uma geração de jovens cada
vez mais desinteressada e apática. Se por um lado testemunhamos uma era de
co-presença virtual dos indivíduos, a era dos humanos ligados ao instante, por
outro podemos observar o surgimento de um ser humano cada vez mais distante e
indiferente, em outras palavras, insípido. Este novo ser está tão conectado (ao
mundo online) que acaba por se desconectar de sua própria realidade concreta e
palpável, acontecendo exatamente no seu entorno, a cada instante e minuto.
E o que pode acontecer em um minuto? Bem, em um minuto
podem ser postadas 72 horas de vídeo no YouTube, enquanto 204 milhões de e-mails
chegam aos seus destinatários e 350 GB de dados são recebidos pelos servidores
do Facebook… ou pode passar uma baleia ao seu lado (se estiver em alto mar, é
claro). De qualquer forma, estes foram os dados angariados pela Qmee, empresa
de consultoria norte-americana, e diz respeito a uma parte do que acontece pela
internet afora enquanto em um minuto um evento precioso pode passar
despercebido.
E assim a vida transcorre de minuto a minuto. As
informações coletadas nos revelam que estamos deixando a vida passar enquanto
ficamos hipnotizados pelo visor e por uma exacerbada interação a distância. Não
sei se foi exatamente este o caso do rapaz que perdeu a chance extraordinária
de experimentar a real sensação de estar lado a lado com um dos maiores animais
do planeta.
Não há como tirar conclusões, muito menos julgar a
atitude do homem no veleiro como certa ou errada. Mas faz pensar sobre as
consequências da extrema conectividade que parece estar suplantando o interesse
pelas coisas mais simples do mundo. E que mundo é esse que parece já não surtir
tanta graciosidade sobre os nossos olhos, que buscamos tão fervorosamente
escapar, distraindo-nos?
Reinventar a graça do mundo é reinventar o olhar, é
abrir-se sensivelmente para a realidade que o cerca ao enxergá-la como se fosse
pela primeira vez. Você poderá se surpreender!
(Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização da autora.)
"Reinventar a graça do mundo é reinventar o olhar, é abrir-se sensivelmente para a realidade que o cerca ao enxergá-la como se fosse pela primeira vez."
Reinventemo-nos, por misericórdia. Isto é o mais urgente a se fazer.
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