As
eleições estão na porta. Uma alegria, um dever cívico que se transforma em
agonia. Como se alegrar diante da política partidária que vem sendo praticada?
Como se alegrar e se entusiasmar com candidatos presos a esquemas, ligados a
alianças espúrias?
Olho
para o horizonte e não vislumbro uma liderança que me empolgue. E aí, dizem os “politizados”:
“Não, mas você tem que votar. É seu dever de cidadã. O voto nulo favorece
Fulano ou Cicrano”.
Como
ser pensante, recuso-me a adotar o chamado “voto útil”. Minha consciência se
recusa a apertar a tecla do “menos ruim”. Não é assim que se vota, para mim. Se
eu votar num candidato no qual não tenho uma boa dose de confiança, eu estou
ajudando a colocar no poder alguém que não merece estar ali. E me torno
corresponsável pelos atos dele no poder. Esta é a lei espiritual.
[Quando
falo “espiritual”, por favor, não quero ser mal interpretada. Não estou
tratando de religiosidades. Eu sequer pertenço a uma religião. Falo em
espiritualidade no sentido amplo. Uma espiritualidade que tudo engloba. Somos
seres espirituais, por mais que nossa era materialista tente nos afastar desta
verdade. E espiritualidade nada tem a ver com crenças ou seitas ou religiões.
Espiritualidade, na minha opinião, é, antes de tudo, uma busca do
autoconhecimento. Essa busca transcende as religiões. Haveria algo mais
importante a fazer neste plano terreno a não ser buscar o conhecimento de si
mesmo? Esta é a meta, o resto são ilusões, nas quais embarcamos, às vezes.]
Voltando
ao tema: estamos tão cegos que não conseguimos enxergar a decadência do nosso sistema
político? Por quanto tempo mais esse sistema se sustentará? A decadência do
sistema político é a decadência da sociedade. A profissão de político deveria
ser um apostolado. Roubos, mentiras, corrupção são distorções criminosas que
deveriam passar longe da mente do político. No entanto, chegamos a uma
degradação tal que fica difícil enxergar alguém, no meio desse horrível pântano
que é o sistema político nacional, que seja realmente sério, honesto, probo.
“O
que está fora é um reflexo do que está dentro”, diz uma das leis espirituais
universais. A sombra da humanidade a perseguirá até que ela pare e olhe para
ela. Não adianta fugir. Esta sombra vem aumentando porque não queremos olhar
para ela. Insistimos num modelo de civilização que faliu, mas que luta para não
perder o trono.
Enquanto
cada um não decidir olhar para sua própria sombra, esse desfile externo de
horrores, não somente na política, mas em todos os segmentos da nossa vida,
continuará.
Mas
o que é olhar para a própria sombra? O que é a sombra?
A
sombra é a soma de tudo quanto reprimimos em nós. Tudo quanto reprimimos de
sentimentos, raivas, medos... Lembra quando você era criança e sua mãe dizia: “Não
faça isto! É feio ficar com raiva assim!” E aí você engoliu a raiva e fingiu
ser bem comportado(a)? Sim, é claro que você precisava ser educado. Nada contra
isto. Porém, nossa educação é falha. Ao mesmo tempo em que é reprimida, a
criança deveria receber ferramentas para trabalhar e compreender aquele
sentimento que foi reprimido. Como isto não acontece, guardamos bem guardadinho
dentro de nós um verdadeiro baú tamanho-família repleto de negatividades. Este “baú”
nos segue aonde formos. Segundo Jung, ele é a nossa sombra. Nem dormindo escapamos dela, incansável presença à espreita, a nos aparecer como um pesadelo ou um sonho esquisito. Uma sombra que
precisa ser vista, mais cedo ou mais tarde.
As
nossas sombras reunidas estão nos assombrando, por isto a nossa civilização
está em decadência. Ela está nos engolindo. Porém, acredito no despertar. Nunca
deixarei de acreditar no despertar da humanidade. A maneira mais eficaz de
trabalhar a própria sombra é olhar para ela. O ato de olhar leva luz.
Observe-se, olhe para si mesmo. A melhor meditação que alguém pode praticar é
justamente esta: observar-se. Observe-se particularmente nos momentos de
explosão, de raiva, de falta de controle, de medo. Nunca é demais lembrar que
nós nos descontrolamos não por causa do outro; nós nos descontrolamos porque
não estamos em equilíbrio. Nunca é o outro, nunca. Procurar se ver sem máscaras,
procurar sair dessa bolha cor-de-rosa da auto-ilusão é trabalho para a vida
inteira. Trabalho árduo, difícil, sofrido, mas cheio de compensações. Cada
descoberta de cada faceta de si mesmo é uma alegria sem tamanho. É uma carga
que cai do baú. E cada carga que cai nos torna mais leves na nossa caminhada.
Destaco:
“Se
você não pode enxergar a própria sombra, precisa procura-la. A sombra se
esconde na vergonha, nos becos escuros, nas passagens secretas e nos sótãos
fantasmagóricos de sua consciência. Ter um lado sombrio não é possuir uma
falha, mas ser completo. Há uma dura verdade a confrontar. (Você nunca tentou
dizer uma ingênua verdade a alguém, que estrilou respondendo ‘Não venha me
analisar’, ou algo parecido? O reino inconsciente parece tão perigoso quanto as
profundezas do oceano; ambos são escuros e repletos de monstros invisíveis.)”
“Estamos
todos vivendo com os destroços de ideias fracassadas que um dia pareceram
soluções perfeitas. Cada solução combina com o quadro daquilo que constitui o
lado sombrio.”
(O
Efeito Sombra, Deepak Chopra)
Acendamos nossa luz, a vida clama, o tempo urge. O interruptor está do lado. Em cima dele, está escrito: "Coragem!". E a sombra está ali, como na ilustração. Ela é a flor que precisa ser colhida para que possamos ser plenos.