domingo, 28 de janeiro de 2018

Ideologia, Dualidade e Fanatismo

“Todas as ideologias são idiotas, 
sejam religiosas ou políticas, 
pois é o pensamento conceitual, 
a palavra conceitual, 
que tem infelizmente dividido os homens.” 

(Jiddu Krishnamurti)

“Para cada ser humano há um mundo perfeito 
feito especialmente para ele ou para ela.”

(Zygmunt Bauman)

“Se você tem alguma ideologia para se definir, 
você não é livre. Liberdade significa nenhuma definição.” 

(Osho)

Tenho uma amiga que mudou de religião. Depois que se converteu, passou a me enviar mensagens todos os dias. Mesmo sabendo que eu havia escolhido um caminho mais holístico, ligado a mestres universalistas, mesmo assim ela queria me converter (nosso mundinho tridimensional funciona assim: as pessoas se encaixotam seja numa religião, seja numa ideologia que consideram conveniente, e ficam insistindo com os outros para aderirem, para entrarem na mesma caixa delas. Espiritualmente falando - e psicologicamente também -, isso tem um nome: chama-se insegurança).

Pensei com meus botões: podemos fazer uma boa troca. Passei a escolher aquelas mensagens espiritualistas que mais me tocavam, de vários mestres, bem profundas, e mandava também para ela. Notei que ela mudou. Passou a querer debater e entrou no nível do tipo “meu mestre é melhor que o seu!” 

Calmamente, tentei, com a maior suavidade e tato que consegui reunir (de fato, não queria perder a amizade dela, só não queria tê-la como minha mentora espiritual), mostrar-lhe outras visões. Não obtive sucesso. Ela continuou com muita raiva porque não queria ler nem ouvir nada com relação a tudo aquilo que pudesse colocar em cheque suas crenças, que se transformaram (obviamente), no mais flagrante e puro fanatismo. Essa pessoa, ao escrever, projetava em mim a raiva, a revolta, a insegurança que ela sentia quando lhe chegavam os textos escolhidos por mim. Ficava evidente o medo. Típico de alguém que se acercou de uma verdade e não enxerga a verdade do outro. Ela só projetava, num comportamento “polarizado” (para usar esse termo da moda) cuja mensagem principal era: “Eu estou certa e você está errada!” "Venha para a minha corrente!"

Bem, como não sou de catequizar ninguém, continuei sem entrar na disputa e tentando falar da relatividade das coisas. Ela não entendeu e preferiu passar um tempo sem me ver.

A capacidade de observar-se a si mesmo deveria ser o que temos de melhor. Por que fugimos dessa capacidade e caímos no velho e cômodo dualismo? Porque olhar para si mesmo assusta. Não queremos ver a própria sombra. Essa negação tem um preço: aquilo que negamos ganha força. A sombra se avoluma. Sombras individuais somadas = sombra da humanidade multiplicada. E ainda nos assombramos com o grau de superficialidade do mundo? Ainda nos assombra a violência?

Leia - e tente refletir sobre este texto de Deepak Chopra, falando sobre a sombra:

"Uma vez, durante uma palestra do notável professor espiritual J. Krishnamurti, alguém na plateia levantou para fazer uma pergunta:

- Quero paz no mundo. Abomino a guerra. O que posso fazer para ajudar a alcançar a paz?

- Pare de ser a causa da guerra - respondeu Krishnamurti.

O espectador ficou perplexo.

- Não sou a favor da guerra. Só quero a paz.

Krishnamurti sacudiu a cabeça.

- Dentro de você está a causa de todas as guerras. É sua violência, oculta e negada, que conduz às guerras de todo tipo, seja dentro de seu lar, contra outros da sociedade ou entre nações.

Sua resposta nos deixa incomodados, mas acho que é verdadeira, pois o rishi védico proclamou: 

- Você não está no mundo. O mundo está em você.

Se é assim, portanto, a violência do mundo está em cada um de nós. Antes de surgir o conceito de sombra, tal afirmação teria parecido mística. Mas, uma vez que você está participando do self compartilhado, também consegue ver que todos os impulsos de raiva, medo, ressentimento e agressão seguem diretamente de você ao inconsciente coletivo e depois voltam." 

“É tão difícil observar-se a si mesmo 
quanto olhar para trás sem se voltar.” - Henry David Thoreau

Como perceber a própria sombra? Observar-se incansavelmente. Com coragem. 

Apaixonou-se por uma ideia? Abraçou uma ideologia ao ponto de começar a pensar em "nós-versus-eles"? Perdeu o discernimento – a sombra está aí.

Projetou no outro algum sentimento negativo? – a sombra está aí.

Insiste no pensamento do tipo “coitados, não sabem o que fazem, são ignorantes”? – a sombra está aí.

A sombra se insinua sempre que nos divide e sempre que pensamos em termos de “está claro para mim que a verdade é assim – você é que não quer enxergar”.



Diz o militante fanático: “Ah, mas eu sou militante político e tenho obrigação de abrir os olhos dos ignorantes e cegos!” 

O fanático religioso não pensa diferente: “Ah, mas eu sigo a igreja tal, tive a minha vida transformada e tenho obrigação de abrir os olhos dos ignorantes e cegos!” 

Pergunto eu aqui: desde quando se impõe a verdade, seja ela religiosa, política, filosófica? Veja uma criança. Quanto mais você impõe coisas a uma criança, mais rebelde ele se torna. Faça-a pensar. E aí ela poderá escolher qual o caminho a seguir. Que poderá não ser o seu. Isso vale para tudo.

“Estamos vivendo com os destroços de ideias fracassadas que um dia pareceram soluções perfeitas.” (Deepak Chopra- O Efeito Sombra). 

Quantos equívocos seriam evitados se refletíssemos nesta frase antes de criarmos muros e divisões do tipo “meu partido é o melhor”?

A vida é tão cheia de nuances. Existe sempre algo muito maior em jogo. Movidos pela sombra, no entanto, caímos no partidarismo não só da política: resvalamos para o partidarismo da vida. Levantamos bandeiras e tentamos impor nossas “verdades” ao outro, apaixonadamente, avidamente, às vezes até invasivamente... ao invés de olhar para dentro e perceber a extrema fragilidade de tantas crenças, tantas ideologias às quais nos aferramos com medo de encarar a própria sombra...

Há um antigo conto sufi que exemplifica muito bem a linha que tento seguir. Um conto quântico que me abriu muitos horizontes internos. Sempre que minha mente quer cair no julgamento... sempre que eu sinto vontade de insistir com alguém sobre algum ponto de vista, sempre que caio na tentação de querer rotular uma situação, ele me vem. 

Reproduzo-o aqui em toda sua sabedoria:

O Julgamento

Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco... Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia: 

“Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?”. O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo.

Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e disseram: “Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!”

O velho disse: “Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma bênção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?”.

As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se reuniram e exclamaram: “Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma bênção”.

O velho respondeu: “Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta... quem sabe se é uma bênção ou não? Este é apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença – como pode julgar todo o livro?”.

Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente achavam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...

O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas.

As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram: “Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca”.

O velho retrucou: “Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma bênção. A vida vem em fragmentos, mais que isso nunca é dado”.

Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, porque era aleijado. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. 

Elas vieram até o velho e disseram: “Você tinha razão, velho – aquilo se revelou uma bênção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre”.

O velho respondeu: “Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus, a Totalidade, sabe se isso é uma bênção ou uma desgraça”.

Sair da visão fragmentada para uma visão mais abrangente... trocar a mente-que-tudo-julga pela Consciência que observa e age sem paixões exacerbadas nem militâncias de quaisquer gêneros é o grande desafio humano.

A chamada "mente zen" dos budistas não é uma utopia. É a única realidade palpável e viável, capaz de transformar nosso modelo de civilização equivocado, dualista e decadente num novo modelo, holístico, pleno. Mas a mudança de compasso é sempre muito dolorosa. Toda mudança de ponto gera choro e ranger de dentes. Olhar para si mesmo, encarar a sombra é doloroso - esta é a má notícia. A boa é que, depois de encarar a sombra, verifica-se que ela não é tão assustadora. Nosso medo dela é que a tornava mais monstruosa do que é.

Lembremos sempre: todos somos UM!

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Dia Mundial da Paz



“A paz só pode ser alcançada pela rendição a Deus, que é a verdadeira essência de cada um, a fonte de toda a vida e de todo meio de vida.” – Bhagavan Sri Sathya Sai Baba

“A paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure à sua volta.” - Buda

“Quando os pensamentos inquietos são eliminados a mente se transforma, de modo natural, em um templo sagrado de paz. Deus insinua sua presença no templo do silêncio e, então, no templo da paz.” - Yogananda

“Quando praticamos a paz e estamos aptos a sorrir, nossa paz pode influenciar o universo inteiro.” – Thich Nhat Hanh

"Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho." - Gandhi

“Por mínimo que seja seu ato de amor, você já estará trabalhando em nome da paz.” – Madre Teresa de Calcutá

“A paz não é nada além de um profundo sentimento de aceitação.” – Sri Sri Ravi Shankar

“Num mundo cada vez mais ruidoso e caótico, é necessário que as almas mais sensíveis se voltem para o silêncio. Silenciar é aprofundar-se. Aprofundar-se é trabalhar pela paz.” – Lakshmi Lup

“Prefiro perder a guerra e ganhar a paz.” – Bob Marley

“Se todos derem as mãos, quem sacará as armas?” – Bob Marley

“A paz é um dom de Deus.” – Provérbio popular