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Escolhi estas duas cartas simbólicas, para ilustrar minha crônica:
"Wheel of Fortune", a Roda da Fortuna - nº 10
"Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser... Tortuoso é o caminho da eternidade." - Nietzsche
O significado da carta diz respeito a colher o que se planta e também relaciona-se aos ciclos da vida - a roda não para, está sempre girando; ela se move através do tempo, num eterno nascer - morrer - renascer. É quando o ser encara a glória temporária da sua própria humanidade.
"Judgement", o Julgamento - nº 20
"A Terra ecoa a promessa de um novo nascimento." - Sallie Nichols, Jung e o Tarô.
Esta carta também pode indicar a colheita no presente do que se plantou no passado. O ser encontra-se despojado, exposto ao poder maior, representado pelo anjo tocando a trombeta.
O Julgamento pede a libertação de ideias profundamente enraizadas, engessadas, que aderiram ao ser na sua caminhada. Representa uma
segunda chance para situações não resolvidas no passado.
Tarôs à parte: e aí, comemoramos?
Há o que comemorar, sim. Devemos comemorar pela vitória da justiça brasileira. A comprovação de que ninguém está blindado ou acima da lei é sempre um norte a incentivar o cidadão a ser honesto e íntegro. Por outro lado, chegamos num tal nível de corrupção generalizada, que não haverá cadeias suficientes para prender os políticos desviados da ação correta.
Luto para que o foro privilegiado caia. É esse foro que limita a abrangência da justiça e permite que figuras facinorosas prossigam habitando congressos e tribunais, servindo a interesses obscuros, enchendo os bolsos com o dinheiro público, esbaldando-se em farras de benesses e privilégios sem fim.
Há tanto a fazer ainda! Como conseguiremos prosseguir continuando a pagar salários exorbitantes à classe política, além das vantagens por ocupar determinados cargos (auxílio-moradia, auxílio-passagem, auxílio-paletó... etc.)? Tudo isso vem atraindo pessoas cujo objetivo é apenas enriquecer e se locupletar, nada mais. E a vocação política, que deveria ser uma espécie de apostolado para o qual poucos seriam chamados, é substituída pela ganância e pela ambição do enriquecimento fácil.
Eu, particularmente, comemoro e lamento. Comemoro a vitória da justiça. E lamento pela gigantesca oportunidade que Lula e o PT jogaram pelo ralo. Tiveram todas as oportunidades, todo o aval popular nos dois mandatos do governo Lula e mais um do governo Dilma, com direito a reeleição. Lamento isto não de agora. Lamento desde o primeiro mandato do petista, quando comecei a perceber os primeiros sinais de falência dos ideais petistas e das promessas de campanha. Lamento como petista que já fui. Lamento por mim e por muitos que, como eu, acreditaram no envolvimento real de Lula com aquilo que considero primordial para qualquer povo: a educação, a ética, a honestidade. Lamento pela divisão em que nos vemos agora, fruto de anos de militância petista, batendo na tecla do "povo contra as elites" quando eles próprios se comportam como a elite da elite, ostentando luxos escandalosos às expensas do erário.
É muito fácil fazer discursos contra a miséria. Iluda-se quem quiser. Miséria não se extirpa com esmola. Há que se fazer alguma coisa, sim, por quem está com fome. Mas com o cuidado de não transformar uma ajuda emergencial num hábito viciante de apenas receber. Aquele que aprende a só andar com ajuda termina esquecendo que tem pernas próprias. Torna-se uma eterna vítima, precisando dos eternos favores do Estado para sobreviver.
Aumentar o poder de compra do povo também não é solução para nada. Temos de aumentar - e isso é mais do que urgente - o poder de discernimento. E o poder de discernimento só ocorre com educação. Precisamos ler mais, não comprar mais. No entanto, entra governo e sai governo e a educação vai sendo historicamente relegada. Sim. Não há interesse em se investir em cidadãos que pensem; há interesse em se investir em pobreza e miséria, porque aí o Estado pode aparecer como o grande patrocinador, aquele que dá de graça. Transformando-se assim em benfeitor e podendo manipular a massa pobre à vontade.
Descreio de líderes populistas. A era deles está desmoronando. Assim como descreio das idolatrias. Idolatrias servem apenas para nos cegar.
Entretanto, a despeito de tantas projeções sombrias no nosso cenário político... a despeito da nossa ausência de líderes autênticos e íntegros... a despeito de estarmos praticamente à deriva, ante a desmoralização diária e sistemática daqueles que dirigem nossa nação... mesmo assim devemos manter o otimismo. Cada líder que cai pelo poder da justiça é uma esperança que surge de dias melhores.
Faço votos para que a Lava Jato continue firme em sua tarefa. Faço votos para que derrubemos o foro privilegiado. Que não fique pedra sobre pedra. É dos escombros que ressurgiremos como nação. É dos escombros que conseguiremos olhar para nós mesmos e reiniciarmos nossa caminhada com novos pontos de vista, novos paradigmas, novas perspectivas.
A "salvação" não está em líder algum... a Salvação, com "S" maiúsculo, está em cada um iniciar, por si próprio, o processo de construção de um mundo melhor não a partir de fora, de líderes, mas a partir do próprio coração, a partir da sua própria casa, da sua própria família. A partir da sua (nossa) própria jornada rumo à integridade pessoal, ao autoconhecimento, à luz interna que cada um de nós possui. O processo de formação do caráter é penoso, difícil, cheio de armadilhas. Mas abraçar esse processo é uma tarefa sagrada e inadiável, perante si mesmo e perante o cenário sombrio não só brasileiro, mas mundial.
Vivemos momentos históricos. Momentos difíceis. E é no meio dessa dificuldade que reencontraremos nossa Fênix interior.
Comemoremos, sim, sem euforias. Euforias geram conflitos. São sombras que atraem sombras. Desequilíbrios a puxar desequilíbrios. Uma corrente exageradamente eufórica de um lado - outra corrente exageradamente revoltada do outro é o bastante para iniciar um conflito.
Que brilhe o Brasil, que brilhe a nossa Luz. Que caia o que tiver de cair e que a Roda da Fortuna continue girando - a desconstrução é seguida da construção. Sempre.
Samastha Loka Sukino Bhavantu!
(Que todos os mundos sejam felizes e bem-aventurados!)
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