sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Momento de Introspecção

“O melhor trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é parar de projetar nossas sombras nos outros.” 

(Carl G. Jung)

Estamos num momento em que a sombra não pode mais ser escondida. Ela simplesmente está explodindo à nossa frente, aos nossos olhos atônitos. A sombra da humanidade, que é a soma da sombra de todos nós, tem hoje a dimensão de uma nuvem gigantesca e escura, pairando sobre a Terra. Para vê-la, basta um clique. As cenas do nosso declínio desfilam hoje diante de nós sem que precisemos sair de casa, bastando apertar a tecla de um controle remoto ou um celular.

“Fiquei petrificada” – disse a fotógrafa ao registrar a imagem da criança séria, de apenas 3 anos, afogada no mar ao tentar fugir dos horrores da guerra com sua família. Será esta imagem o empurrão que falta para percebermos o fracasso total e acachapante da nossa dita “civilização”? Precisamos de mais o quê para acordarmos?

Somos todos um, é o que nos diz a física quântica. Fazemos todos parte de uma grande teia. É por isso que nossas sombras se somam. E a sombra unida de todos nós já não pode mais ser ignorada ou contida. Ela extrapolou. Tudo porque a humanidade evoluiu tecnologicamente, mas negou-se a trabalhar o conteúdo da própria psique. Por medo. Afinal, sempre foi assim. Nossos pais nos ensinaram a reprimir nosso lado sombra; eles já haviam aprendido com os nossos avós, que também foram treinados pelos nossos bisavós... e daí por diante. 

Aprendemos que é feio ter uma sombra. O melhor é fingir que não temos. O melhor é pensarmos que somos puros e perfeitos. E o que temos feito é isto: adiar o momento do confronto... conosco mesmos. Adiamos e adiamos por séculos. E agora estamos num impasse. O mundo transformou-se num palco de areia movediça onde as forças do caos mostram a sua cara, sugando tudo ao seu redor.

O desequilíbrio que vemos externamente em todos os segmentos da sociedade está nos enviando uma mensagem. A mensagem é exatamente esta: “Olhe para mim! Não me ignore mais!”. Os estertores do nosso modelo equivocado de civilização, valorizando sempre a vida externa sem o aprofundamento da vida interna, são o alerta que precisamos para mudar. Isso é urgente, não dá mais para adiar.

Jung
Jung disse, em 1945: "Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas, mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no entanto, é desagradável e, portanto, impopular."

O estudo da sombra continua impopular. Não queremos olhar para a nossa sombra, não queremos nem saber que temos sombra! E tudo aquilo que não queremos ver ganha força sobre nós. Escondida nos recônditos do nosso ser, é a sombra que sabota nossas vitórias, nossos relacionamentos, nossa paz.

Ter uma sombra não é motivo de susto ou de vergonha. Todos nós temos uma sombra. Aceitar isto é o primeiro passo para uma mudança interna de paradigma. Se existe a coragem é porque existe o medo; se existe o quente é porque existe o frio; se existe o bem é porque existe o mal. Portanto, todas as coisas têm o lado dito “positivo” e o lado “negativo”. São polaridades apenas.

Aceitação é uma das chaves. Olhar, reconhecer e aceitar. E autovigiar-se. Prestar atenção particularmente aos momentos de raiva ou irritação. Parar de apontar. Parar de julgar e jogar no outro a responsabilidade sobre nosso humor. O poder não está fora, está dentro. Ninguém tem o poder de nos fazer felizes ou infelizes, belicosos ou pacíficos. O descontrole existe porque guardamos dentro de nós um conteúdo que desconhecemos e negamos por séculos. Teve uma crise de raiva porque o outro o ofendeu? Pare, reflita. O outro simplesmente foi o agente que desencadeou seu sentimento. Você não está com raiva porque o outro o ofendeu. Você está com raiva porque a raiva estava reprimida, dentro de você, aguardando uma chance para aparecer.

"Decifra-me ou devoro-te", parece dizer a esfinge. Com a sombra é a mesma coisa. Ou decidimos olhar para esse compartimento dentro nós guardado a sete chaves, ou perderemos o bonde da própria vida. Outra encarnação. Outra tentativa.

A hora do salto quântico é agora! Todas as forças do universo se movem para que tenhamos essa oportunidade! Ampliar nossa consciência sem olhar para a sombra é impossível, ilusão pura. Ampliemos. Aprofundemos. Já prorrogamos demais. Paremos com todo esse circo de horrores. Paremos de projetar, projetar, projetar no outro aquilo que não queremos ver em nós.

Precisamos, com amor e união, reescrever a nossa história. Com muita coragem, determinação, amor. Olhar para dentro. Aprofundar-se. Autoconhecer-se. Isto é levar luz para a sombra. E qualquer sombra desaparece com a luz. 

Recomendo o estudo dos livros: "Ao Encontro da Sombra" - Ed. Cultrix; e "O Efeito Sombra" - Ed. Lua de Papel.

Nenhum comentário: