“Valores morais e espirituais precisam ser honrados com a
mesma intensidade, ou mesmo mais, que os valores econômicos e materiais. A vida
deve ser uma mistura harmoniosa desses valores, com ênfase na força moral. A
honra de uma nação depende de sua moralidade. Uma nação sem moralidade está
predestinada ao desastre.” – Sathya Sai Baba
Toda a crise que vemos no mundo, hoje, é uma crise moral.
O Brasil se afoga na corrupção, os Estados Unidos exportam seu modelo de
ultraconsumismo, a China explora seus trabalhadores e debate-se no meio de uma
poluição ambiental insustentável... e por aí vai.
O que leva um homem público a ser corrupto? Falta de
valores humanos. O que leva um país inteiro (ou países inteiros, já que o
problema é global) a desrespeitar o meio ambiente onde vive? Falta de valores
humanos.
E ainda nos assombramos com os acontecimentos do dia a
dia?
O que estamos fazendo? Estamos educando nossas crianças
no caminho correto? Estamos dando a elas o exemplo de que o amor, a dignidade,
a honestidade, o respeito valem mais do que a dita “esperteza”? Estamos
explicando a elas que a mania de “levar vantagem em tudo” é perniciosa a longo
prazo? Estamos mostrando a elas que o comportamento fraterno, sem competição, é
o único capaz de nos elevar como pessoas e como sociedade? Estamos
desestimulando nelas a ânsia pelo consumismo?
Nada disso. Estamos até sem tempo de ensinar alguma coisa
aos nossos filhos. Estamos terceirizando a educação, deixando que a internet,
junto com a TV e as babás, façam por nós aquilo que é obrigação nossa. O que se
espera de uma criança que passa o dia diante da televisão ou acessando todo o
tipo de lixo na internet? Valores humanos? Zero. Moralidade? Zero.
É o nosso modelo de civilização. É a sombra da
humanidade, que cresce progressivamente, à medida em que não se quer olhar para
ela. Não queremos ver os erros, apenas seguimos em frente com eles.
Os políticos que elegemos são projeções nossas, nada mais
do que projeções. Se desconhecemos nossa própria sombra e, por isso,
desconhecemos a nós mesmos, como vamos reconhecer o eu farsante do outro?
Mahatma Gandhi disse: “O problema do mundo é que a
humanidade não está em seu juízo perfeito”. E não percebemos que estamos
loucos. E por não percebermos, não lutamos pela nossa sanidade.
O famoso filósofo Krishnamurthi estava dando uma palestra
quando lhe perguntaram: “Quero ver a paz no mundo. Detesto a guerra. O que devo
fazer para promover a paz?” Krishnamurthi simplesmente respondeu: “Pare de ser
a causa da guerra. Dentro de você está a causa de todas as guerras. É sua
violência, oculta e negada, que conduz às guerras de todo tipo, seja dentro de
seu lar, contra outros da sociedade ou entre nações”.
Duvida?
Todas as vezes em que você pensar: “Sou muito melhor do
que essas pessoas”; “criminosos são desumanos”; “sou um exemplo”, você está
ampliando a sua sombra e, consequentemente, contribuindo para o crescimento da
sombra da humanidade.
Há uma experiência famosa, realizada em Stanford. Para
entender melhor o comportamento das pessoas num sistema carcerário, psicólogos
criaram as mesmas condições de uma prisão, dividindo os universitários em dois
grupos: o grupo dos condenados e o grupo dos guardas. Disseram a eles que
estavam livres para interpretar seus papéis da forma que quisessem e
entendessem. O que aconteceu foi surpreendente: a experiência precisou ser
interrompida depois de poucos dias! Os estudantes que interpretavam os guardas extrapolaram,
maltratando o outro grupo de forma inaceitável, com humilhações e até abuso
sexual!
Qual a conclusão?
Essa experiência mudou a antiga forma de pensar que fazia
os psicólogos acreditarem na teoria da maçã ruim, ou seja: coloque uma maçã
podre num cesto cheio de maçãs boas e logo as boas adoecerão.
“O bom-senso diz que um líder de gangue pode induzir seus
seguidores passivos a cometerem crimes; trotes de faculdade vão longe demais
porque um pequeno núcleo de maçãs ruins faz pressão sobre os outros. No
entanto, a experiência de Stanford contou uma história oposta. Todos os
participantes eram bons garotos, que estudavam numa prestigiada universidade. O
deslize de comportamento não ocorreu porque eram maçãs ruins, mas porque
estavam em más condições, o que permitiu que forças sombrias emergissem. O que
os psicólogos estavam vendo era simplesmente uma incubadora da sombra, e as
condições que favorecem o surgimento da violência grupal foram catalogadas”.
(Do livro O Efeito Sombra)
Ou seja: podemos, em sã consciência, julgar alguém? Claro
que não, mas fazemos isto o tempo todo. O tempo todo achamos que somos
melhores, que somos imunes a isto e aquilo. Não olhamos com profundidade para
nós mesmos, não temos o mínimo de autoconhecimento e simplesmente viramos o
rosto para não encarar a própria sombra. Por quê? Porque dói olhar para a
sombra. Dói saber que não sabemos, que somos ignorantes a respeito de nós
mesmos.
A maior imoralidade é a ignorância do próprio eu. Nosso
potencial jamais se revelará em plenitude enquanto desconhecido. Olhar a
própria sombra, reconhecer que a sombra do outro, que a sombra da humanidade
também é nossa é fundamental. Por não reconhecermos isto, estamos nos
destruindo e destruindo o mundo ao nosso redor.
Não adianta apontar o dedo para o político corrupto se
nós mesmos não somos capazes de mudar o nosso olhar. Olhar para si mesmo, olhar
para dentro, reconhecer os erros, mudar os paradigmas, quebrar os preconceitos,
este é o trabalho que estamos adiando, mas que agora chegou o momento
inadiável.
Ou mudamos tudo, a partir de nós, ou a sombra criada pelo
medo e pela ignorância nos engolirá. A bomba foi acionada e o pavio está visivelmente encurtando. Somente a nossa luz pode apagá-lo.
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