A medicina salva muitos; mas também mata milhares
Você saberia dizer qual é a terceira principal causa de
morte nos países mais desenvolvidos?
Dado que o câncer e as doenças do coração são muito
citados, você poderia arriscar um palpite nos crimes, nos acidentes de carro,
no diabetes ou nos acidentes vasculares cerebrais.
Você estaria errado.
A resposta é: mortes iatrogênicas - aquelas causadas por
erros médicos, reações adversas a medicamentos ou infecções hospitalares.
O termo iatrogenia deriva do grego iatros (médico) e
genia (origem, causa).
Só nos Estados Unidos, um levantamento realizado em 2000
apontou a ocorrência de 225.000 mortes por causas iatrogênicas por ano.
Quando a Medicina causa mortes
Com toda a capacidade da medicina moderna para aliviar o
sofrimento e prevenir mortes prematuras, ela também causa as duas coisas em
abundância.
Muitas intervenções médicas acabam tendo consequências
negativas e não intencionais, que frequentemente surgem como resultado de
pesquisas em busca de melhores tratamentos.
Embora muitas dessas ocorrências sejam facilmente
identificáveis - os erros médicos, por exemplo - só agora estamos começando a
descobrir seus efeitos mais nefastos.
Veja o câncer. Todos sabem o quanto os efeitos colaterais
de uma quimioterapia podem ser perigosos: o tratamento pode
enfraquecer o sistema imunológico do paciente a um ponto em que ele morre de
uma infecção que, se estivesse sadio, não teria contraído ou nem notado.
Mas os problemas podem ser mais sérios. Descobertas
recentes mostram que a capacidade das células tumorais de se espalhar para
outras partes do corpo - a metástase - pode ser reforçada pela própria
quimioterapia. Em outras palavras, em alguns casos, a quimioterapia pode tornar
o câncer mais agressivo.
Ou considere um analgésico comum, que milhões de pessoas
tomam para tornar uma gripe mais suportável.
Quando considerados em um nível populacional, esses
analgésicos podem estar transformando as pessoas infectadas em propagadores de
vírus mais eficientes.
Mais especulativamente, estão surgindo evidências de que
as bactérias do intestino podem exercer influência significativa sobre a nossa
saúde mental.
Se os efeitos observados nos estudos em animais forem
observados também em humanos, poderemos ter de repensar práticas que vão desde
o uso de antibióticos e da realização de exames preventivos até os
transplantes.
O que se espera é que a comunidade científica e médica
enfrente mais abertamente o problema das mortes iatrogênicas - os dados mais
"recentes" sobre a questão são de 2000.
E, ao discutir a questão, permita que as decisões sobre
medicamentos e tratamentos sejam melhor fundamentadas, e frutos de uma
discussão aberta entre médicos e pacientes.
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