quinta-feira, 29 de março de 2012

Do Casulo e das Nossas Impaciências


O grande escritor e filósofo grego Nikos Kazantzakis (“Zorba, o Grego”) conta que, quando criança, reparou num casulo preso a uma árvore, onde uma borboleta preparava-se para sair. Esperou algum tempo, mas – como estava demorando muito – resolveu acelerar o processo. Começou a esquentar o casulo com seu hálito; a borboleta terminou saindo, mas suas asas ainda estavam presas, e terminou por morrer pouco tempo depois.
“Era necessária uma paciente maturação feita pelo sol, e eu não soube esperar”, diz Kazantzakis. “Aquele pequeno cadáver é, até hoje, um dos maiores pesos que tenho na consciência. Mas foi ele que me fez entender o que é um verdadeiro pecado mortal: forçar as grandes leis do universo. É preciso paciência, aguardar a hora certa, e seguir com confiança o ritmo que Deus escolheu para nossa vida”.

Sempre que leio algo assim, minha fé se renova. Minha fé de que muitos de nós estão aptos a dar o salto espiritual que o momento exige.
Alguns poderão rir do fato de se poder ficar com peso na consciência pela morte de uma borboleta. Nossa educação contemporânea ainda é extremamente falha quanto ao sentido das coisas, quanto ao desenvolvimento da sensibilidade com referência a todos os seres viventes e sua intrínseca importância e correlação com tudo o que existe.
É de Kazantzakis a frase: “Você não é um ser humano que está tendo uma experiência espiritual. Você é um ser espiritual que está tendo uma experiência humana”.
Seres espirituais tendo uma experiência humana. Será que temos dúvida quanto a isto? Temos, sim, quando não procuramos desenvolver os valores do espírito; quando somos violentos (com atos, palavras ou pensamentos); quando somos inertes, deixando sempre para depois o que deveríamos ter feito ontem; quando apontamos o dedo na cara do outro e tememos o espelho. E quando entramos nessa onda de aceleramento global.
Tudo tem seu ritmo. Estamos nos forçando a um ritmo que não é o nosso, não é o ritmo da nossa natureza. Vivemos com pressa, correndo contra o tempo, especialmente nos grandes centros urbanos. Por vivermos com pressa, começamos a nos habituar a um novo ritmo. E criamos um descompasso entre este novo ritmo acelerado e o ritmo cósmico, sagrado, aquele que nos diz, repetindo o filósofo: “É preciso ter paciência, aguardar a hora certa e seguir com confiança o ritmo que Deus escolheu para nossa vida”.
Sim, muitas vezes não parece fácil. Como mudar? Como dizer isto a um funcionário de uma fábrica que precisa mostrar rapidez e produção com um mínimo de tempo? Como dizer isto a um empregado de uma lanchonete fast-food? Podemos criar um movimento contrário. Aliás, já existe um movimento assim, na Europa, como reação ao fast-food.
E como surgem esses movimentos? Surgem a partir de uma ou duas pessoas que começam a refletir, que começam a sair da mentalidade mecânica de repetição. Os movimentos contrários surgem a partir de um questionamento básico, uma rápida parada para pensar: “Para onde estão me levando? Onde chegarei nesse ritmo?” A partir daí, começamos a abrir clareiras na nossa mente, na nossa vida.
Um mero relaxamento, um momento de meditação, uma pausa musical, um instante para admirar a natureza, para interagir com uma criança, coisas simples assim que qualquer pessoa pode fazer, são suficientes, na maioria das vezes, para acalmar uma ansiedade.
As borboletas nos ensinam muito. Aprendamos com elas a confiar na sabedoria do pulsar do universo.

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