sábado, 13 de julho de 2013

Consumismo e Amadurecimento


Estive presente, recentemente, a uma palestra do Deputado Daniel Coelho, proferida a um pequeno grupo de ativistas ambientais. 

Tive ocasião de visitar sete vezes a Índia. E sempre foi motivo de perplexidade para mim, acostumada à violência urbana do Brasil, observar como as classes baixas indianas lidam com a desigualdade social. Andar na rua coberta de jóias é comum para as indianas ricas, que desfilam pelas vias abarrotadas de gente, com a tranquilidade de quem sabe que não vai ser atacada na primeira oportunidade. 

Fiz um paralelo entre minhas próprias ilações e a palestra. Mostrando dados da ONU, Daniel mostrou como a realidade dos fatos (estatisticamente falando) nos comprova que a violência não pode ser simploriamente explicada pelo grau de pobreza, haja vista países como a Índia ostentando índices de criminalidade flagrantemente inferiores aos índices de países ricos, como os Estados Unidos, por exemplo. Segundo ele, os fatores que influenciam são: familiares; valores religiosos e culturais e a relação de consumo

Para mim, ele foi "na mosca". A Índia é um país onde os valores religiosos e culturais estão extremamente arraigados. Para o indiano, inexiste uma religiosidade separada da vida cotidiana - a espiritualidade é algo bem mais amplo, que abrange absolutamente tudo (comer, vestir, falar, se portar no mundo), bem diferente da visão fragmentada ocidental. Conhecedor da lei universal do carma (lei de causa e efeito), o indiano teme o crime, porque quer preservar sua integridade perante o divino. Não que inexista criminalidade na Índia, existe, sim, mas levando em conta a imensa desigualdade social, é assombroso como esse nível é pequeno. Isto faz resvalar por terra as teorias socialistas que tentam explicar todos os problemas sociais pela desigualdade.

Na minha opinião, o mundo ocidental perdeu-se totalmente quando rendeu-se ao consumismo. Como bem explicou Daniel Coelho, o consumismo desenfreado é um dos fatores que geram o crime. Disseminou-se entre nós e arraigou-se na nossa mente o falso juízo de que precisamos "ter" para "ser". A propaganda maciça, permanente e insistente, incitando-nos a comprar e a consumir desenfreadamente, conseguiu o seu objetivo perante a maioria: acreditar que nossa felicidade está ali fora, naquele objeto sedutor externo. Então, precisamos fazer de tudo para conseguir atingi-la. Sem um embasamento forte espiritual, os valores humanos viram de cabeça para baixo e descambamos para a criminalidade facilmente. As drogas também estão aí, para dar um empurrãozinho.

Impossível não citar Sri Sathya Sai Baba, meu Sad Guru (aliás, indiano). Ele diz que o mundo não precisa de novas religiões, mas de valores humanos. Aqui, não se ensina valores humanos nas escolas. Juntemos no caldeirão essa ausência de valores humanos nas escolas e nos lares (os pais não têm tempo e deixam que a TV ensine aos filhos o que quiser) com a propaganda consumista desenfreada e irresponsável, os programas de péssima qualidade exibindo violência gratuita e ainda nos surpreendemos com o aumento da criminalidade? 

Os políticos corruptos que elegemos são fruto da nossa precária situação. São fruto de uma humanidade corrompida. Sai Baba sempre alertou para o grande perigo de desenvolvermos o intelecto e não desenvolvermos a compaixão. Grande educador que foi, ele disse: “A meta da educação é a formação do caráter. Caráter é a unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que caráter é poder”. Ele diz também que o superdesenvolvimento do intelecto sem a estrutura dos valores humanos é como um pássaro de uma asa só. Esses pássaros de uma asa só estão sendo fabricados aos montões e estão aí dirigindo grandes nações. Homens superintelectualizados desprovidos de compaixão, totalmente cegos para as verdades do espírito.

Então, o que fazer diante disso?

Primeiro, precisamos nos conscientizar de que a responsabilidade sobre o mundo também é nossa. Somos coparticipantes desse teatro. Os que se conscientizam de toda a insanidade provocada pelo consumismo, devem alertar os outros, principalmente pelo exemplo. O planeta está se esvaindo em seus recursos naturais devido ao consumo desenfreado. Se houvesse um mínimo de reflexão, bastaria uma verificada nas estatísticas para nos provocar assombro e mudança. Por que a maioria não se assombra? Porque está hipnotizada. Somos uma manada de autômatos, marchando cada vez mais velozmente para o abismo.


O que estamos esperando? Olhemos para nós, para nossa vida diária. Façamos uma varredura no que podemos mudar. O Iphone 5 que almejamos poderá nos oferecer alguns instantes de alegria. Mas o momento de amadurecer é agora.

(Agradecendo a Maria Luiza Brandalise o envio da foto, muito oportuno).

Um comentário:

maria helena disse...

minha amiga querida, você escreve muito bem! É muito bom ler uma escrita bem feita e com conteúdo que leva a reflexão! Parabéns!!Maria helena