segunda-feira, 8 de abril de 2013

Amazônia: um Paraíso que a Estupidez Humana Deixa se Perder


“Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada.”
(E. Burke)
A beleza da Amazônia, retratada por Araquém Alcântara
Li ontem uma reportagem triste e realista sobre a Amazônia, com fotos ilustrando. O autor da matéria e das fotos é o renomado fotógrafo Araquém Alcântara, cujo currículo arrecada vários livros publicados e prêmios jornalísticos.

A matéria estremeceu meu coração. O que estamos fazendo? Que tipo de poder está nos cegando? Por que não reagimos em conjunto?

Relatei aqui, na postagem anterior, a visita de uma Hierarquia que nos pediu orações pelos  povos indígenas. Ao ler a matéria de Araquém, lembrei-me desse pedido. Ao permitirmos a destruição das nossas reservas florestais, estamos ao mesmo tempo destruindo o que resta de civilização indígena. Ao cruzarmos os braços diante dessa calamidade terrível, demonstramos também todo o nosso descaso e descompromisso com o Reino Animal e o Reino Vegetal. E assinamos, ao mesmo tempo, nossa sentença de morte. Estamos matando nossa origem indígena, ao invés de honrá-la; estamos criando um mundo tecnológico onde não há lugar para a natureza. Cegos, esquecemos que sem árvores não há vida.

A matéria de Araquém é um forte alerta, para nossa reflexão. Caso seu coração seja tocado, repasse o link. Precisamos tocar as consciências! Precisamos nos indignar! Mais - precisamos agir! O poder não está fora, lembre-se. Não há poder maior do que a união das pessoas. Citando Margareth Mead: "Nunca duvide da capacidade de um pequeno grupo de dedicados cidadãos para mudar os rumos do planeta. Na verdade, eles são a única esperança de que isso possa ocorrer".

A FERRO E FOGO - Araquém Alcântara (publicada em dezembro/2012)

A Amazônia arde porque nossa omissão permite
este crime ambiental inominável.
Foto: Araquém Alcântara
Neste exato momento, bem diante dos meus olhos, a maior floresta tropical da Terra arde no calor das queimadas. Labaredas de fogo brilham na cortina de fumaça e tingem de vermelho o horizonte. O jornal de hoje comemora a queda do desmatamento em 40 por cento relativamente ao ano passado e eu quase não consigo ver nem respirar. O fogo e a fumaça escondem o sol, os olhos ardem, o calor é insuportável.

Percorro mais de mil quilômetros na Belém-Brasília e só vejo um paredão cinza de fumaça, o cheiro da terra calcinada, o gado pastando em áreas desmatadas, as carvoarias engolindo madeira.

A cena se repete todo ano, entra governo e sai governo, entra ministro e sai ministro.
O jornal fala que alguns milhares de quilômetros foram desmatados e compara com a área da Bélgica (por que sempre a Bélgica ?). Meu sentimento é de revolta e perplexidade. Só quem anda por aqui é que sabe que a grande floresta não tem mais como suportar, atingiu o seu limite. Ela está realmente se fragmentando e já é possível prever uma Amazônia dilacerada, sem produzir chuva e completamente modificada na sua fisionomia original.

Amazônia: assistiremos, passivos, a sua morte?
Foto: Araquém Alcântara
A destruição da floresta escancara nosso descaso, nossa conivência com o crime inominável.

Estamos permitindo a desertificação do maior laboratório científico de nossa civilização, sem ao menos conhecê-lo e estudá-lo. O que dói na alma é que os cientistas afirmam que dentro desta mata dilacerada é possível existir milhares de produtos que podem revolucionar a saúde do planeta.

A ação do fogo e da motosserra já consumiram 17 % da Amazônia , ou seja 70 milhões de hectares, o equivalente à área do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro juntas. Mais de um bilhão de árvores já tombaram e, pelo menos, 32 milhões de animais foram mortos ou desalojados.

Dirão alguns que a questão não é tão grave, já que a Amazônia ainda está sob ocupação humana das mais ralas e há regiões com as dimensões dos países europeus que continuam intactas.
Amazônia, patrimônio magnífico, fonte de vida.
Foto: Araquém Alcântara
Dirão outros que a floresta é um celeiro inesgotável , já que dentro dela caberia praticamente toda a Europa, excluindo os países da antiga União Soviética.


O bioma amazônico, espalhado por nove países da América do Sul, tem 6,6 milhões de quilômetros quadrados; ao Brasil pertence 65 % do total, com 4,2 quilômetros quadrados de floresta por onde escorre um quinto da água doce do planeta. Não há outro lugar no mundo com tamanha variedade de espécies de pássaros, peixes e insetos. Numa área de algumas centenas de metros quadrados da floresta, existe mais diversidade de plantas do que em toda a Europa.

Ainda se pode viajar dias e dias por muitos rios da floresta sem ver um ser humano nas margens, mas, em regiões mais adensadas populacionalmente, a devastação e o extermínio de animais é algo simplesmente aterrador.

A terra nua e tomada por voçorocas que se estende por longas áreas, também hoje, catastroficamente presente nos biomas do cerrado e da caatinga, coloca por terra o mito da superambundância e da inesgotabilidade dos recursos florestais do país.

De modo gradativo, a Amazônia está sendo comida pelas queimadas, pelo furor das serrarias, poluição dos garimpos , instalação de fazendas de gado em várzeas que funcionam como berçários de peixes; pelo crescimento urbano, represas e pela exploração descontrolada de seus recursos naturais.

Não há conhecimento, nem respeito. Os políticos não conhecem a floresta, permanecem trancados em seus gabinetes e em sua ignorância.
Amazônia: estamos cegos e surdos ante a estupidez
da sua devastação?
Foto: Araquém Alcântara
A questão amazônica não encontra eco na sociedade. Parece que a Amazônia é problema dos outros; parece que os 20 milhões de brasileiros que lá vivem não precisam de médico, dentista, mantimentos e dignidade.

Ninguém sabe quem são os verdadeiros proprietários de terra na Amazônia. Apenas 5 por cento do valor total das multas ambientais são arrecadados. O código ambiental brasileiro é uma excrecência. A corrupção é a maior arma dos grileiros. Grupos de políticos, fazendeiros e madeireiros formam quadrilhas que agem como se fossem mais poderosos que o Estado.

Por que não dizemos basta a tanta destruição? Por que somos tão passivos? Por que permitimos que os governos ignorem a ganância dos senhores de terras, a voracidade das grandes madeireiras, o enriquecimento ilícito, as carvoarias e mineradoras ilegais, o garimpo sangrando a terra. Tudo em nome de um progresso que enriquece alguns indivíduos e empresas e deixa o povo na mais absoluta miséria.

O que está acontecendo agora no Estado do Pará é inaceitável: trabalho escravo, corrupção, uso de violência, invasão e ocupação ilegal de terras públicas, a degradação sistemática dos recursos naturais. Destruição que ameaça não apenas a floresta ou as comunidades tradicionais, que dela dependem para sobreviver, mas a integridade da própria Constituição brasileira e o futuro do país.

Onde havia vida vibrante e pulsante, restam apenas
fumaça, cinzas e o espectro triste da grande árvore calcinada.
Foto: Araquém Alcântara
Por que séculos de maravilhosa construção, são destroçados num único gesto?

Os cientistas dizem que é urgente uma moratória nacional para conter a destruição da floresta e que o governo assuma a responsabilidade que lhe cabe de criar um novo modelo social e econômico voltado para os interesses dos 20 milhões de amazônidas.

É urgente também, dizem os cientistas, que se implemente uma revolução científico-tecnológica na Amazônia, com a formação de técnicos de alta especialização nas mais diversas áreas científicas, para ocupar e conhecer esse laboratório.

E uma outra revolução mais sutil, mas igualmente importante: a mudança no modo como encaramos a Amazônia, a resposta do que realmente queremos para a Amazônia. Os estoques de riquezas naturais que ela possui são cobiçados sim pelas potências internacionais e isso exige uma mudança de atitude, uma presença efetiva, um grande esforço de toda a sociedade.

Visão do paraíso ameaçado.
Foto: Araquém Alcântara
Precisamos lembrar que a Amazônia pode chegar ao ponto da Mata Atlântica que foi praticamente dizimada. Ela tinha mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, o equivalente a 12 por cento da área do pais. Séculos de exploração madeireira, avanço agrícola e crescimento urbano destruíram mais de 90 por cento da mata original. 

Sobraram de 5 a 8 por cento da paisagem avistada por Cabral.

De um modo trágico e desesperado, este é o último serviço que a liquidação da Mata Atlântica pode prestar aos brasileiros : um clamor surdo por indignação, atitude e patriotismo. 

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