quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vegetarianismo e Propaganda


Eu acredito no vegetarianismo como uma filosofia de vida que eleva o homem, especialmente do ponto de vista espiritual. Tenho absoluta fé de que na próxima Era de Ouro que está por vir o nível de consciência reinante não permitirá que continuemos a nos alimentar à custa do assassinato dos irmãos animais. Isto virá.
Tornamo-nos insensíveis ao sofrimento animal. Partimos de crenças falsas. Fizeram-nos acreditar que não podemos viver sem ingestão da proteína animal. Embora esta idéia já tenha caducado, porque já se provou e divulgou por todos os meios de comunicação que isto não é verdade, que podemos, sim, viver sem carne e até com mais qualidade de vida, continuamos presos a um hábito. O hábito é o pior dos cárceres. Há uma historinha interessante para ilustrar nosso pensamento:
“Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento. A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores. Chegando lá, o urso tirou da fogueira um imenso panelão de comida. Abraçou o panelão e enfiou sua cabeça nele para devorar o conteúdo. Foi aí que sentiu o calor e a queimadura nas patas e no peito. Era uma sensação nova que ele nunca havia experimentado. Interpretou as queimaduras como uma coisa que queria lhe tirar a comida. Começou a urrar muito alto e, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, morto, agarrado ao panelão de comida.”
Assim somos nós. Defendendo nossos velhos e retrógrados hábitos com unhas e dentes, agarramos nossa panela. Perdemos o dom da reflexão. Perdemos o bom senso. Sabemos que morreremos queimados, mas ainda assim não soltamos a panela quente. Sabemos de tudo, mas fingimos não saber. Basta pensar um pouquinho nas consequências antinaturais trazidas ao planeta pelos grandes rebanhos. Quando não houver mais árvores para derrubar, quando não houver mais oxigênio para respirar, sabemos que feneceremos. Mas preferimos morrer agarrados à panela, presos ao hábito. Isto, definitivamente, não é inteligente.
No entanto, acredito nas mudanças. Acredito na evolução da consciência. Acredito na palavra dos grandes mestres hierárquicos. Tudo isto deixará de ser assim. Cada um precisa fazer a sua parte. 
Há muitos movimentos de conscientização proliferando, pessoas se mobilizando para conscientizar outras. Cada uma com métodos diferentes de sensibilização. Eu, particularmente, não gosto do método de propaganda maciça utilizando ferramentas negativas. No meu caso, tornei-me vegetariana depois de ouvir uma gravação de um instrutor espiritual (Trigueirinho). Com voz suave, sem me mostrar nenhuma foto sangrenta, ele me convenceu.
Sathya Sai Baba sempre adotou a dieta vegetariana e pedia a seus devotos que parassem com o sacrifício animal, para nosso próprio bem e do planeta. Nunca permitiu que enchessem o ashram com fotos de animais morrendo para nos convencer melhor.
A superexposição da violência apenas a banaliza, tornando-nos imunes a ela.
Atualmente, a violência entra nos nossos lares com a maior naturalidade, pela TV, pelo rádio, pelos jornais e revistas, pela internet. Como algo que já faz parte da nossa rotina, vemos desfilar ante nossos olhos e das nossas crianças as piores atrocidades.
Percebam os dois extremos: Estados Unidos e Reino do Butão. Nos Estados Unidos, tudo é permitido. A “violência nossa de cada dia” é alimentada pelos filmes violentos, amplamente divulgados e propagados, principalmente pela televisão. O que vemos como consequência? Um grande desequilíbrio. A indústria da propaganda do crime e do horror devolve à sociedade um fruto amargo... mais e mais os valores do espírito são ignorados e, aqui e ali, explodem criaturas que, muitas vezes, até pareciam pacatas, e, de repente, munidas de armas conseguidas com as facilidades do mundo moderno, parecendo saídas de uma ficção tenebrosa, começam a matar pessoas em série e depois, não raro, matam-se a si próprias.
Agora vamos ao Reino do Butão. Tão distante e inacessível que é esse país, perdido lá pelos Himalaias, que muitos sequer sabem da sua existência. Mas ele existe. Os habitantes são, em sua maioria, budistas; seres pacatos, ligados aos valores budistas, às suas famílias, às suas tradições. Lá, o rei estabeleceu o FIB (Felicidade Interna Bruta), ao invés do PIB (Produto Interno Bruto).
A localização de difícil acesso permitiu que o Reino do Butão fosse uma ilha de paz no oceano revolto do mundo, vivendo de acordo com sua cultura e tradição secular. Nesse reino não havia televisão até alguns anos atrás. Hoje em dia, diríamos nós, o Butão está “modernizado”, pois já pode contar com TV e internet. E as estatísticas estão aí mostrando a triste realidade que não queremos ver. Enquanto, no passado, os crimes eram praticamente inexistentes nesse paraíso perdido dos Himalaias, não se pode mais dizer a mesma coisa atualmente. A influência dos filmes violentos, mostrada na TV e na internet, vem entrando maciçamente, impiedosamente e nocivamente em algumas almas, provocando danos. E o Reino do Butão não é mais o mesmo...
É uma prova de que nós nos tornamos aquilo que contemplamos.
Eu evito a TV de um modo geral, mas evito principalmente programas onde o submundo da humanidade é escancarado de forma nua e crua, porque sou uma buscadora espiritual e isto contamina a atmosfera interna do buscador. Como aspirante, preciso criar um clima para que meu ser interno se expresse.
Somos frágeis. Ninguém pense que está imune às vibrações negativas do ambiente. Somos seres altamente permeáveis. As impressões negativas entram na nossa aura, influenciam nossa mente, contaminam nossas emoções.
Às vezes ocorre de termos tanto cuidado com o que entra na nossa boca, mas não temos cuidado com o que entra em nós pelo que escolhemos ver, pelo que escolhemos ler, pelo que escolhemos ouvir. Tudo é alimento.
Sathya Sai Baba diz:
Ouvir sons desarmônicos, olhar imagens pouco construtivas, não constitui uma dieta pura.”
“Quando você se livrar da poluição que nasce do mau uso dos cinco órgãos dos sentidos, você será capaz de se divinizar.”
“Ver todos os tipos de coisas, indiscriminadamente, é repleto de perigos. É somente quando o homem tem uma visão pura que ele pode se livrar das impurezas no corpo, na fala e na mente.”
Percebo por trás dos movimentos de algumas pessoas (e dos meus próprios movimentos) uma ansiedade para que as coisas mudem. Não suportamos mais o mundo como ele está. Essa ansiedade, porém, nos leva a esquecer que as mudanças têm seu próprio ritmo.
Se quero convencer as pessoas a serem vegetarianas, o passo mais importante é não ter ansiedade para tentar convencê-las. Primeiro preciso conter-me. Tudo começa comigo. Somos todos ímãs magnéticos. Se eu quero a paz, preciso primeiro ser a paz. A vibração que emanarei será sentida e outros poderão aderir.
Somos todos um, nunca duvidemos disto.