sábado, 18 de fevereiro de 2012

Rudá e o Canto do Pássaro

"Levar tua atenção a uma pedra, a uma árvore ou a um animal não significa pensar neles; significa simplesmente percebê-los; dar-se conta deles. Então, algo te é transmitido de sua essência. Sentes profundamente que descansas no Ser, completamente unificado com o que és e onde estás. E aí tu também entras num lugar de profundo repouso dentro de ti mesmo." (Ekhart Tolle, O Poder do Agora)

"Nosso verdadeiro lar está no momento presente. Viver o momento presente é um milagre." (Thich Nhat Hanh, Vivendo em Paz)



Estava eu conversando com um amigo, enquanto vigiava os movimentos de Rudá, meu neto de 2 anos. Não me lembro bem sobre o que conversávamos, só lembro que estava distraída, sem saber que estava distraída…
De repente, a vozinha de Rudá me acorda da minha distração: “Ola (olha)! Escuta!”
Acompanhando o pedido com um gesto, levantando o dedo e totalmente alerta, a criança se embevecia com o canto de um pássaro, lá fora. Era um canto bonito e Rudá percebeu que ouvir aquele canto era a coisa mais importante a fazer naquele momento. Eu não havia percebido o canto, porque não estava presente 'naquele agora'. No entanto, a consciência do ‘estar distraída’ só veio com o alerta “Ola! Escuta!”
Eu nem sabia que já existia no vocabulário do meu pequeno neto a palavra “escuta”…
Assim são as crianças, zen por natureza, enquanto os condicionamentos que lhes impomos ainda não conseguiram extrair delas o que têm de mais puro.
Ouvir a natureza, prestar atenção aos sons à nossa volta, maravilhar-se com o canto de um pássaro. Coisas simples que qualquer um pode fazer. Coisas simples que dão uma quebra na mente, abrindo um espaço luminoso, um intervalo no pensar. Observar, escutar, sentir, ser.
O pássaro cantava e a criança era só o escutar. Para Rudá era inadmissível que continuássemos falando num momento mágico daquele. Algo era prioritário, esse algo era ouvir, apenas ouvir.
Ah, se todos compreendêssemos o que são essas ‘pausas’ para a alma, nesse tão barulhento mundo! Esquecer tudo por um momento, deixar-se enlevar por um pássaro ou por uma música suave, ou pela contemplação da natureza, isso é vital. Vejo como cada vez mais cedo a infância deixa de ser infância e todo mundo acha normal que seja assim...
É na simplicidade da natureza que a criança aprende as maiores lições sobre a vida.
O monte budista Thich Nhat Hanh recomenda, no livro Vivendo em Paz:

“Temos que ensinar a nós mesmos e a nossos filhos a apreciar as alegrias simples que estão ao nosso alcance. Isso pode não ser fácil nesta nossa sociedade complexa e dispersa, mas é essencial à nossa sobrevivência: sentar na grama com nossos filhos pequenos, mostrar-lhes as florzinhas azuis e amarelas que crescem entre a relva e admirar esse milagre juntos. A educação para a paz começa nesse instante.”

E lembrar sempre que, mesmo como "educadores" dos nossos filhos ("educadores" assim, entre aspas, porque o que nós fazemos com nossas crianças, de um modo geral, está longe de se chamar "educação"), precisamos estar abertos para aprender com eles. Eles são mestres maravilhosos.

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