segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Arrogância em Tempos de Eleição

“Não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando você denigre o outro é porque você mesmo não consegue crescer e precisa que o outro seja rebaixado para você se sentir alguém.” 
(Papa Francisco)

“Ignorância e arrogância são duas irmãs inseparáveis, com um só corpo e alma.”
(Giordano Bruno)

O patrulhamento ideológico não é fácil. Em época de eleição, é só o que se vê. Alguém me enviou uma matéria de Ricardo Mota com o título “A eleição pôs luz sobre um Brasil obscuro”, onde o escritor fala sobre a nossa intolerância cotidiana, que veio à tona nas eleições presidenciais, especialmente no segundo turno. Preconceito, racismo, falta de solidariedade, tudo isto preponderou.

Ora, a baixaria já vem como exemplo dos próprios candidatos. Diz o autor: “A disputa presidencial serviu para suprir o profundo vazio que os tempos nos impõem. O ódio, como sói acontecer, uniu mais do que a solidariedade – o que está longe de ser uma manifestação social saudável.” E, mais adiante, continua: “O que vimos por esses dias de segundo turno, principalmente, foi a replicação do nosso comportamento nas coisas mais banais do dia a dia: no trânsito, no ambiente de trabalho, no supermercado e até na família.”

Recentemente, num evento familiar, na véspera da eleição, encontrei dificuldades em evitar assuntos políticos, tal a insistência de alguns convidados. E ainda tive de escutar acusações (ditas de forma brincalhona, é claro), por me posicionar diferentemente de uma parte dos meus familiares. Isto chama-se arrogância, falta de humildade. Isto é o mesmo que dizer: “estamos certos e você, errada”.

No Facebook, desfiz uma ou duas “amizades”. Não porque as pessoas externaram pensamento diferente do meu, longe disso. Desfiz porque não suporto amizade onde me sinto invadida, onde sinto que minhas ideias não foram respeitadas da mesma forma que procuro respeitar as opiniões alheias. Há várias maneiras de discordar do outro. Discordar escutando os motivos  alheios é saudável e elegante. Mas o que ainda predomina é a discordância invasiva, grosseira, indelicada. É esta discordância invasiva que cria divisões e preconceito.

Por aí se vê como estamos longe de estabelecer relações civilizadas. Não fizemos o dever de casa mais primário, que é o de podar nosso ego, a arrogância nossa de cada dia.

O texto de Mota termina assim: “O Brasil já avançou muito, não o suficiente para fazer da verdadeira cordialidade e do respeito entre os que habitam um território espetacularmente belo e diverso o comportamento dominante, que forja uma grande nação. Civilidade não se compra no shopping da esquina. Não por acaso, uma rima fácil para felicidade. E como cantou Tom Jobim, em Wave: ‘É impossível ser feliz sozinho’.”