quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Reflexão Sobre Sombra e Eleições

As eleições estão na porta. Uma alegria, um dever cívico que se transforma em agonia. Como se alegrar diante da política partidária que vem sendo praticada? Como se alegrar e se entusiasmar com candidatos presos a esquemas, ligados a alianças espúrias?

Olho para o horizonte e não vislumbro uma liderança que me empolgue. E aí, dizem os “politizados”: “Não, mas você tem que votar. É seu dever de cidadã. O voto nulo favorece Fulano ou Cicrano”.

Como ser pensante, recuso-me a adotar o chamado “voto útil”. Minha consciência se recusa a apertar a tecla do “menos ruim”. Não é assim que se vota, para mim. Se eu votar num candidato no qual não tenho uma boa dose de confiança, eu estou ajudando a colocar no poder alguém que não merece estar ali. E me torno corresponsável pelos atos dele no poder. Esta é a lei espiritual.

[Quando falo “espiritual”, por favor, não quero ser mal interpretada. Não estou tratando de religiosidades. Eu sequer pertenço a uma religião. Falo em espiritualidade no sentido amplo. Uma espiritualidade que tudo engloba. Somos seres espirituais, por mais que nossa era materialista tente nos afastar desta verdade. E espiritualidade nada tem a ver com crenças ou seitas ou religiões. Espiritualidade, na minha opinião, é, antes de tudo, uma busca do autoconhecimento. Essa busca transcende as religiões. Haveria algo mais importante a fazer neste plano terreno a não ser buscar o conhecimento de si mesmo? Esta é a meta, o resto são ilusões, nas quais embarcamos, às vezes.]

Voltando ao tema: estamos tão cegos que não conseguimos enxergar a decadência do nosso sistema político? Por quanto tempo mais esse sistema se sustentará? A decadência do sistema político é a decadência da sociedade. A profissão de político deveria ser um apostolado. Roubos, mentiras, corrupção são distorções criminosas que deveriam passar longe da mente do político. No entanto, chegamos a uma degradação tal que fica difícil enxergar alguém, no meio desse horrível pântano que é o sistema político nacional, que seja realmente sério, honesto, probo.

“O que está fora é um reflexo do que está dentro”, diz uma das leis espirituais universais. A sombra da humanidade a perseguirá até que ela pare e olhe para ela. Não adianta fugir. Esta sombra vem aumentando porque não queremos olhar para ela. Insistimos num modelo de civilização que faliu, mas que luta para não perder o trono.

Enquanto cada um não decidir olhar para sua própria sombra, esse desfile externo de horrores, não somente na política, mas em todos os segmentos da nossa vida, continuará.

Mas o que é olhar para a própria sombra? O que é a sombra?

A sombra é a soma de tudo quanto reprimimos em nós. Tudo quanto reprimimos de sentimentos, raivas, medos... Lembra quando você era criança e sua mãe dizia: “Não faça isto! É feio ficar com raiva assim!” E aí você engoliu a raiva e fingiu ser bem comportado(a)? Sim, é claro que você precisava ser educado. Nada contra isto. Porém, nossa educação é falha. Ao mesmo tempo em que é reprimida, a criança deveria receber ferramentas para trabalhar e compreender aquele sentimento que foi reprimido. Como isto não acontece, guardamos bem guardadinho dentro de nós um verdadeiro baú tamanho-família repleto de negatividades. Este “baú” nos segue aonde formos. Segundo Jung, ele é a nossa sombra. Nem dormindo escapamos dela, incansável presença à espreita, a nos aparecer como um pesadelo ou um sonho esquisito. Uma sombra que precisa ser vista, mais cedo ou mais tarde.

As nossas sombras reunidas estão nos assombrando, por isto a nossa civilização está em decadência. Ela está nos engolindo. Porém, acredito no despertar. Nunca deixarei de acreditar no despertar da humanidade. A maneira mais eficaz de trabalhar a própria sombra é olhar para ela. O ato de olhar leva luz. Observe-se, olhe para si mesmo. A melhor meditação que alguém pode praticar é justamente esta: observar-se. Observe-se particularmente nos momentos de explosão, de raiva, de falta de controle, de medo. Nunca é demais lembrar que nós nos descontrolamos não por causa do outro; nós nos descontrolamos porque não estamos em equilíbrio. Nunca é o outro, nunca. Procurar se ver sem máscaras, procurar sair dessa bolha cor-de-rosa da auto-ilusão é trabalho para a vida inteira. Trabalho árduo, difícil, sofrido, mas cheio de compensações. Cada descoberta de cada faceta de si mesmo é uma alegria sem tamanho. É uma carga que cai do baú. E cada carga que cai nos torna mais leves na nossa caminhada.

Destaco:

“Se você não pode enxergar a própria sombra, precisa procura-la. A sombra se esconde na vergonha, nos becos escuros, nas passagens secretas e nos sótãos fantasmagóricos de sua consciência. Ter um lado sombrio não é possuir uma falha, mas ser completo. Há uma dura verdade a confrontar. (Você nunca tentou dizer uma ingênua verdade a alguém, que estrilou respondendo ‘Não venha me analisar’, ou algo parecido? O reino inconsciente parece tão perigoso quanto as profundezas do oceano; ambos são escuros e repletos de monstros invisíveis.)”

“Estamos todos vivendo com os destroços de ideias fracassadas que um dia pareceram soluções perfeitas. Cada solução combina com o quadro daquilo que constitui o lado sombrio.”

(O Efeito Sombra, Deepak Chopra)

Esses destroços estão caindo em nossas cabeças como uma chuva de bumerangues. Sim, bumerangues. Nós somos os responsáveis por jogar para o alto as nossas falhas. Sem compreender, em nossa pouca consciência, que elas voltam. Voltam para nós ainda mais fortes. Todo o conteúdo negativo que tentamos esconder em nós jamais se desgrudará do nosso ser enquanto não for visto, assumido, trabalhado. Assim é em tudo. Assim é na política que vemos ser praticada. 

Acendamos nossa luz, a vida clama, o tempo urge. O interruptor está do lado. Em cima dele, está escrito: "Coragem!". E a sombra está ali, como na ilustração. Ela é a flor que precisa ser colhida para que possamos ser plenos.