“Nossas
vidas começam a morrer no dia em que calamos coisas que são verdadeiramente
importantes.” (Martin Luther King)
Às
vésperas da Copa do Mundo, faço algumas reflexões.
Já
torci em muitas outras Copas, sempre com alegria, a família reunida, uma corrente
de vibração pelo nosso Brasil.
E
agora, que a Copa vai ser aqui? Seria um motivo a mais para se alegrar?
Seria, sim, se as condições fossem outras.
Perdoem-me
os torcedores, os que acreditam nos benefícios da Copa, mas eu não consigo
entender como é possível estar feliz com tanta roubalheira, com tanta
corrupção, com tantos desmandos que vêm acompanhando os preparativos para o
Mundial.
"A ideia de que a Copa vai impulsionar a economia é um mito. Sediar uma Copa do Mundo não traz nenhum legado econômico. Se você quer impulsionar a economia com o dinheiro do povo, que paga impostos, é melhor investir em escolas e hospitais." (Simon Kuper - BBC Brasil)
“...em nome da Copa do Mundo, graves violações de direitos humanos foram e estão sendo cometidas. Comunidades inteiras foram e estão sendo riscadas do mapa, desorganizando a vida de milhares de pessoas, destruindo laços comunitários de décadas e criando traumas psicológicos permanentes. Tudo no decorrer de processos marcados pela verticalidade, truculência e falta de transparência do poder público.” (Sociedade – Opinião - Revista Carta Capital)
Os
alicerces dessa Copa estão corrompidos. Recuso-me a me iludir com essa festa,
recuso-me a curtir o que está podre. Recuso-me a sair
festejando e torcendo como se tudo estivesse bem. Recuso-me a dizer, como muitos estão dizendo: "o
que foi roubado, já foi, o que interessa agora é curtir!" Eu não faço nem
jamais farei parte desse time. O roubo, a corrupção, são deploráveis e precisam
ser apurados, pelo bem de nossas almas, pelo bem do nosso país. Esse descaso,
esse "deixa pra lá, vamos curtir" é um câncer na alma do povo. Não
podemos deixar para lá!
Gostaria
que o meu país fosse conhecido lá fora não somente pelo futebol e pelo
Carnaval, mas por valores éticos que vejo sumir pelo ralo porque os governos
não dão educação ao povo e os próprios políticos dão o mau exemplo, mostrando
que o que vale é encher o bolso de dinheiro e os princípios que se danem.
Por que não investir em educação? Porque a massa ignorante é mais fácil de manobrar.
Como pode o povo refletir melhor sem desenvolver a leitura, o conhecimento, o senso crítico?
Gostaria
de ver líderes políticos verdadeiros, honestos, espalhando o exemplo de
honradez, de probidade, de austeridade.
O
Brasil está órfão de líderes. Em quem acreditar? Em quem votar?
Se
ganharmos a Copa, será que teremos mudanças significativas na nossa realidade?
Alguém realmente acredita nisso?
A
Copa mais cara do mundo todo. Bilhões sendo gastos em estádios num país carente
de escolas, hospitais, transporte coletivo, cultura, rodovias...
Invocar
o meu patriotismo em torno desse circo? Como? É antipatriótico não torcer pelo
Brasil? Eu torço, sim. Torço por um Brasil mais justo, por um Brasil menos
corrupto, por um Brasil decente. As Copas passam. Rápido como a bola no
gramado.
Meu
coração sofre com o Brasil. Por isso, digo que não vou torcer a favor nem
contra. A minha grande torcida é para que nossas consciências se abram, para
que nosso discernimento se amplie. Minha torcida é para que acordemos em tempo
e encontremos um jeito de salvar a nós mesmos, limpando o nosso país dessa
sujeirada toda que o enfeia e desmerece.
Citando Brecht:
Citando Brecht:
“Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão
organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve
parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.” – Bertold Brecht
Nenhum comentário:
Postar um comentário