sexta-feira, 27 de junho de 2014

Precisamos de Olhos que Vejam

"O alcance do que pensamos e fazemos
é limitado pelo que deixamos de notar.
E por deixarmos de notar que deixamos de notar
pouco podemos fazer para mudar,
até que notemos
como o deixar de notar
forma nossos pensamentos e ações."

(R.D. Laing)

O quanto deixamos de ver no nosso cotidiano? Eis um escrito que nos leva a refletir.

A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!

Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.

De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.

Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.

Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.

“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.

Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.

Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.

Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.

Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.

Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…

(Rubem Alves – educador e escritor)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Novo Crop Circle e o Ser Uno

CARTA ABERTA AO SER UNO ... Caro Ser Uno: na segunda-feira vocês editaram uma fotografia e um vídeo de um Crop Circle que foi descoberto em 1º de Junho de 2014, onde vocês dizem que é o símbolo do Ser Uno e que os Irãos Maiores-Ayaplianos já estão anunciando o alinhamento cósmico que começará em 07 de julho de 2014. Minha pergunta é a seguinte: O Crop Circle está unido a um pequeno círculo ... o que significa? Vocês poderiam explicar com mais detalhes o significado deste símbolo? ... Marcelo.

RESPOSTA: Prezado Marcelo: Na verdade, o Crop Circle que foi encontrado em 1º de junho de 2014, na Inglaterra, é o símbolo do Ser Uno. Os Irmãos Mariores-Ayaplianos já estão anunciando o início do alinhamento de 7 de julho de 2014. O Crop Circle assinala as nove dimensões do universo, as quais representam a Glândula Pineal do Ser Uno, ou seja: o Princípio Único, conhecido comumente por nós como A Flor da Vida. Essas dimensões giram a uma velocidade inimaginável e são representadas pela figura de uma flor, cujas pétalas não são estáticas e que vibram, giram, para baixo, para cima e mais para cima. Quando as pétalas estão em movimento, captam a criação de novas Ideias Cósmicas do Princípio Único.

Para nós, que pertencemos à Dimensão Primária, esses movimentos e idéias que emanam da Glândula Pineal do Ser Uno são incompreensíveis, mas as dimensões que se encontram em torno do centro: Dimensão Sublime, Divina, Etérea e Perfeita, entendem o idioma e o simbolismo desses movimentos e idéias. As dimensões nomeadas captam essas idéias, compreendem-nas e as separam, lançando-as, por sua vez, às outras dimensões que se seguem: Dimensão Regular, Secundária, Primária, Inferior e de Criatividade, as quais as absorvem segmentadas e as executam de acordo com o nível de trabalho e compreensão em que cada dimensão se encontra.

A figura maior representa a Glândula Pineal do Ser Uno e a figura menor é o planeta Terra, que está unido por um cordão umbilical ao Criador, ao Princípio Único; porém, como se vê, está fora do círculo, porque, no entanto, não se integrou ao Ser Uno. O planeta Terra e todas as almas encarnadas e desencarnadas que nele vivem devem formar nosso Ser Energético (espírito) para poder se tornar parte integrante do universo, coisa que a maioria dos seres ainda não o fez, porque estamos no processo de Concepção e Gestação, ou seja, no Despertar da Consciência.

Uma vez despertos, ingressaremos para fazer parte dos grandes pensamentos e idéias do Ser Uno. Nos integraremos e - SEREMOS ELE E PARTE DELE - quando todas as almas do planeta Terra tiverem o espírito formado; daí, o cordão se cortará e a Nova Célula Terra-Antimatéria se unirá às outras dimensões de Luz e Amor. Para isto, a Nova Terra terá que passar por todas as dimensões nomeadas, até um dia ingressar na Glândula Pineal do Ser Uno, para integrar-se definitivamente como uma Célula Vivente-Antimatéria na Criatividade na Mente Universal ... Caminho do Ser.

(Tradução livre. Imagem e texto: http://www.elseruno.com)

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Que Passe a Copa

“Nossas vidas começam a morrer no dia em que calamos coisas que são verdadeiramente importantes.” (Martin Luther King)

Às vésperas da Copa do Mundo, faço algumas reflexões.
Já torci em muitas outras Copas, sempre com alegria, a família reunida, uma corrente de vibração pelo nosso Brasil.

E agora, que a Copa vai ser aqui? Seria um motivo a mais para se alegrar? Seria, sim, se as condições fossem outras.

Perdoem-me os torcedores, os que acreditam nos benefícios da Copa, mas eu não consigo entender como é possível estar feliz com tanta roubalheira, com tanta corrupção, com tantos desmandos que vêm acompanhando os preparativos para o Mundial.

"A ideia de que a Copa vai impulsionar a economia é um mito. Sediar uma Copa do Mundo não traz nenhum legado econômico. Se você quer impulsionar a economia com o dinheiro do povo, que paga impostos, é melhor investir em escolas e hospitais." (Simon Kuper - BBC Brasil)

“...em nome da Copa do Mundo, graves violações de direitos humanos foram e estão sendo cometidas. Comunidades inteiras foram e estão sendo riscadas do mapa, desorganizando a vida de milhares de pessoas, destruindo laços comunitários de décadas e criando traumas psicológicos permanentes. Tudo no decorrer de processos marcados pela verticalidade, truculência e falta de transparência do poder público.” (Sociedade – Opinião - Revista Carta Capital)

Os alicerces dessa Copa estão corrompidos. Recuso-me a me iludir com essa festa, recuso-me a curtir o que está podre. Recuso-me a sair festejando e torcendo como se tudo estivesse bem. Recuso-me a dizer, como muitos estão dizendo: "o que foi roubado, já foi, o que interessa agora é curtir!" Eu não faço nem jamais farei parte desse time. O roubo, a corrupção, são deploráveis e precisam ser apurados, pelo bem de nossas almas, pelo bem do nosso país. Esse descaso, esse "deixa pra lá, vamos curtir" é um câncer na alma do povo. Não podemos deixar para lá!

Gostaria que o meu país fosse conhecido lá fora não somente pelo futebol e pelo Carnaval, mas por valores éticos que vejo sumir pelo ralo porque os governos não dão educação ao povo e os próprios políticos dão o mau exemplo, mostrando que o que vale é encher o bolso de dinheiro e os princípios que se danem. 

Por que não investir em educação? Porque a massa ignorante é mais fácil de manobrar.

Como pode o povo refletir melhor sem desenvolver a leitura, o conhecimento, o senso crítico?

Gostaria de ver líderes políticos verdadeiros, honestos, espalhando o exemplo de honradez, de probidade, de austeridade.

O Brasil está órfão de líderes. Em quem acreditar? Em quem votar?

Se ganharmos a Copa, será que teremos mudanças significativas na nossa realidade? Alguém realmente acredita nisso?

A Copa mais cara do mundo todo. Bilhões sendo gastos em estádios num país carente de escolas, hospitais, transporte coletivo, cultura, rodovias...

Invocar o meu patriotismo em torno desse circo? Como? É antipatriótico não torcer pelo Brasil? Eu torço, sim. Torço por um Brasil mais justo, por um Brasil menos corrupto, por um Brasil decente. As Copas passam. Rápido como a bola no gramado.

Meu coração sofre com o Brasil. Por isso, digo que não vou torcer a favor nem contra. A minha grande torcida é para que nossas consciências se abram, para que nosso discernimento se amplie. Minha torcida é para que acordemos em tempo e encontremos um jeito de salvar a nós mesmos, limpando o nosso país dessa sujeirada toda que o enfeia e desmerece. 

Citando Brecht:

“Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.” – Bertold Brecht