sábado, 22 de junho de 2013

A Passeata é Contra Você

O texto abaixo combina com nosso pensamento e complementa a postagem anterior. Reproduzo-o aqui, para nossa reflexão:


A passeata é contra você, sabia?

(Publicado por Andrea Cortiano em 21 junho 2013 às 1:02 em JORNAL CELESTIAL)

Renato Kaufmann, 18 de junho de 2013

O brasileiro se levantou contra toda essa corrupção e violência. Um senso de indignação generalizado, de já ter tolerado demais, apanhado demais.

Mas se você foi à manifestação e usa carteirinha de estudante para ter meia-entrada, mas não é estudante, você é parte do problema. Você não tem moral para reclamar da corrupção deste país. O nome disso é hipocrisia. (Reclame mesmo assim, por favor, porque são dois problemas diferentes.)

Se você joga bituca de cigarro no chão, você trata a cidade como o seu lixo particular. Mas a cidade é de todo mundo. As ruas estão nojentas e a culpa é sua. A manifestação é contra você.

Ah, você é ciclista, todo orgulhoso de ser sustentável, um carro a menos, menos trânsito e CO2. Você reclama da opressão do carro, mais forte, contra a bicicleta, o mais fraco. Mas você não para no sinal. Não respeita a faixa de pedestres. Você até anda na calçada, tornando-se o opressor do pedestre.

Não se iluda: a manifestação é contra você.

Você leva o cachorro para passear e não recolhe o cocô. Ninguém admite, mas o resultado está aí: nossas calçadas são um mar de merda. Calçada não é a privada do seu totó. A manifestação é contra você.

Você joga papel no chão, e não faltam desculpas para não fazer o que é certo. Essa merda de prefeitura que não instala lixeiras, né? Ou, saída de estádio, você toma uma cerveja e joga a lata por aí. Ah, todo mundo estava jogando. Depois vem o cara limpar.
A responsabilidade não é do estado. É sua. 

E você, manifestante, não pode se esquivar a ela nos outros 364 dias da sua vida. A manifestação é contra você.

Você não cumprimenta o porteiro. Você exagera horrivelmente no perfume e invade o nariz do outro. Você dirige bêbado. Você põe um escapamento super barulhento na sua moto, que dá para ouvir a quarteirões de distância, incomoda todo mundo e compra um capacete que ajuda a isolar o som. Você obriga todo mundo do ônibus a ouvir a sua música. Você suborna o guarda ou qualquer outro serviço público. Ou ainda, você escreve textos como este, apontando o dedo contra delitos que já cometeu ou ainda comete, achando que dedo em riste exime você da responsabilidade.

Você é parte da violência. Você é parte da corrupção. Se você não mudar, o país não vai mudar. Mas não adianta todo mundo apenas demandar que “o poder” conserte as coisas. 
Quer mudar o país? Não esqueça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança, como um adulto.

Então, vai pra rua, que estava na hora. Mas não esquece: a manifestação é contra você.

*Inspirado em um texto lindo e corajoso da Duda Buarque.
Imagem: Fabio Mota (Estadão).

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