quinta-feira, 7 de março de 2013

O Grito das Gaivotas


" Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa, 
rouba-nos a luz 
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada." 

(Maiakovski)

Precisamos acordar urgentemente. Precisamos nos conscientizar de que somos mais do que tudo isto que está aí em volta. Precisamos reconstruir a vida, reconstruindo a nós mesmos.
Recebi um vídeo ontem que me deixou engasgada, precisando falar, precisando escrever. É um vídeo feito numa ilha do Pacífico desabitada de seres humanos, a 2 mil milhas da costa, ou seja, a uma distância considerável do continente. A ilha é habitada principalmente por gaivotas, que estão morrendo às centenas, todos os dias, devido aos resíduos plásticos que engolem, pensando ser comida. Temos que ver isto. Temos que mostrar isto, para ver se saimos dessa letargia! 


Há muito a ser repensado, há muito a ser reconstruído, urgentemente. O que está fora é o reflexo do que está dentro. Isto é uma lei. Não há como dissociar a nossa realidade externa daquilo que estamos guardando dentro de nós. O horror na terra é o resultado da minha, da sua, da sombra de todos nós somada. Essa sombra, por não a encararmos de frente, torna-se cada dia mais poderosa e ampla, enegrecendo o mundo à nossa volta, incitando-nos a praticar mais e mais crimes abomináveis contra a natureza, contra os animais, contra o próximo, contra nós mesmos. Essa sombra não pode mais ser ignorada. 

"Pode parecer uma perspectiva lúgubre, porém, na verdade, o primeiro passo para lidar com a sombra é reconhecer seu poder. A natureza humana inclui um lado autodestrutivo. Quando o psicólogo suíço Carl Jung pressupôs o arquétipo da sombra, disse que ela cria uma névoa de ilusão que cerca o self. Encurralados nessa névoa, lançamo-nos à própria escuridão e, consequentemente, damos à sombra cada vez mais poder sobre nós." (Deepak Chopra, O Efeito Sombra).

Tentar ignorar a sombra pensando só na luz não resolve. Pensar que estamos na luz e não temos sombra é uma ilusão. Acreditar que a sombra é coisa dos outros e que não temos responsabilidade com o mal que vemos fora é falta de visão e autoconhecimento. Enquanto não criarmos coragem para encarar nossa sombra pessoal não estaremos ajudando a reconstruir o mundo, por mais que mentalizemos a luz. A sombra do mundo continuará devastando mundos e almas impiedosamente. O primeiro passo é aceitar. Aceito que tenho uma sombra. O simples fato de aceitá-la fornece a coragem de olhar para ela. Então, a partir daí, começa-se a despertar um poder: o Hércules interno, que pacientemente, etapa por etapa, vai destruindo os obstáculos que nos distanciam da luz. 

Em última análise, o que é a sombra? Ausência de luz. Luz é consciência. Podemos manter um cômodo da nossa casa eternamente fechado, com medo dos demônios que possam povoá-lo. Quanto mais medo tivermos, mais nos manteremos comodamente afastados do cômodo, que continuará fechado e sombrio. Mas se decidirmos entrar no cômodo, abrir as portas e janelas para que a luz penetre no seu interior, veremos as sombras se dissiparem imediatamente. Nada resiste à luz da consciência.

Estamos paralisados de medo. Não queremos ouvir o grito das gaivotas, porque o grito das gaivotas é o grito das nossas almas aprisionadas. Fingimos que estamos fazendo alguma coisa pensando só na luz. E o simples fato de ignorarmos a sombra torna-a mais e mais poderosa, mais e mais tenebrosa. Não estou querendo dizer com isto que não devemos nos  voltar para luz. É claro que precisamos pensar na luz, orar, meditar e tudo o mais que possamos fazer para atraí-la. Mas façamos isto sem fugir da nossa sombra. Paralelamente às nossas mentalizações positivas, é necessário coragem para abrirmos nossa "caixa preta" de sombras. Olhar para ela, assumir que ela é nossa é jogar a luz da consciência nessa caixa.

"O mal é bem mais profundo do que o concebem os códigos morais. Ele é 'antivida'. A vida é uma força pulsante e dinâmica; é energia e consciência que se manifestam de muitas maneiras. Não existe o mal, a menos que exista resistência à vida. Essa resistência é a manifestação daquilo a que chamamos 'mal'. O que cria o mal é a distorção da energia e da consciência." (John Pierrakos, A Anatomia do Mal).

É essa resistência que nos sufoca, prendendo nossas emoções e aniquilando nossos sentimentos. A vida deixa de fluir. 

Acordemos todos! Deixemos entrar as correntes de ar puro, as vibrações do amor em nossos corações! Somos todos um, e a sombra de um é a sombra de todos. Somos todos um, homem, terra, ar, fogo, água. As diferenças são apenas aparentes e o grito das gaivotas é o grito de todos nós.

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