sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Mentes em Pane, Sociedade em Perigo

Ao ler o noticiário de hoje, fiquei sabendo de mais um caso de esquecimento de criança no carro, com resultado fatal. Infelizmente não é um caso isolado... o número de vítimas desse tipo de esquecimento cresce e é no mundo todo: aqui, no Japão, nos Estados Unidos. Uma das muitas tragédias do nosso tempo. Tragédia que os responsáveis levarão para sempre na consciência. Tragédias que destroem famílias. Alguém pode imaginar o pesadelo que deve ser conviver com essa memória? 

E então, a gente se pergunta: afinal, o que está havendo conosco para chegarmos a esse ponto de esquecermos o nosso filho no carro? 

Para mim, é apenas um a mais dentre os milhões de avisos que passam diante dos nossos olhos, mas insistimos em não enxergar, de que NOSSA SOCIEDADE ESTÁ GRAVEMENTE DOENTE. Esquecer o filho dentro de um automóvel é uma anormalidade. Não estou aqui tentando entrar na seara do julgamento, por Deus, não! Estou tentando analisar o fato em si e ele é patológico. Lapsos de atenção desse calibre são indicadores de um desequilíbrio grande. Para um pai ou uma mãe esquecer um filho no carro, significa que suas mentes ou seus corpos emocionais (ou ambos) estão em sobrecarga. 


No meu entendimento, é apenas mais um sintoma de uma civilização que segue às cegas, procurando manter um sistema que está caindo de podre. Vamos assim caminhando uns atrás dos outros, mesmo desconfiando que no fim dessa estrada está o abismo, mas seguimos assim mesmo. A imagem que me vem é de um cavalo com antolhos, a quem foi vedada a visão lateral, porque ele só precisa ver o que está à frente.

E vamos levando nossa sobrecarga, nesse ritmo alucinante, correndo contra o tempo para dar conta do que se espera que façamos, sem parar para pensar e refletir. Apenas queremos sobreviver, e sobreviver significa que precisamos acordar cedo e correr, correr, correr; produzir, consumir, consumir; ter, ter, ter. Lutar contra o trânsito congestionado das grandes cidades, lutar para chegar a tempo no trabalho e não perder uma reunião importante, lutar para conseguir uma vaga no estacionamento... e vai por aí. Acrescente-se à urgência deste nosso tempo o barulho, a poluição, os constantes e inúmeros estímulos de celular, TV, rádio, outdoors. Estímulos que nos empurram para fora, para um descentramento, para uma fragmentação que impede o saudável funcionamento do nosso intelecto, porque divide nossa mente em múltiplos departamentos, dificultando nosso foco.

Freiemos este mundo louco! Que jornada insana é esta? Por que temos dificuldade em acordar? O condicionamento é forte, mas a alma é mais forte do que ele! Clamemos por nossas almas, tomemos posse da nossa mente e das nossas vidas, já é mais do que tempo de pararmos de seguir pela vida como sonâmbulos, preocupados mais com o script que nos deram para cumprir do que com nossa consciência interna e nossa qualidade de vida! 

Vou repetir aqui um pequeno conto que publiquei anos atrás, tirado do livro Maktub, de Paulo Coelho:

"Um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores índios andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os índios não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta:

- Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem."


Saudável sabedoria indígena! Louvável conhecimento interno! Sim, nossas almas não estão acompanhando o ritmo frenético dos nossos tempos. Este ritmo tem sido imposto como condição à sobrevivência, ao "sucesso", ao consumismo. A sociedade de consumo transformou-se num enorme monstro cuja goela, cada vez mais faminta e espaçosa, jamais se sacia e sempre quer mais. O planeta esgota seus recursos e sinaliza para um colapso, mas a goela continua ali, aberta. Ela não tem consciência, ela não sabe o que é compaixão: foi criada e treinada para digerir, apenas. Entretanto, não podemos de forma alguma esquecer que fomos nós que criamos esse monstro. Portanto, somente nós temos o poder de destruí-lo. E vamos fazer isto com compaixão por ele. Ele não tem compaixão, é isento de emoções, mas nós temos. Tenhamos um olhar de compaixão por esse Frankenstein. Todos os monstros querem que nos assustemos e quanto mais corremos, mais eles correm atrás de nós. 
Eu crio gatos e percebo o quanto eles são valentes. Alguém já viu um gato enfrentar um cão muito maior do que ele? Eu já vi mais de uma vez. Primeiro, o gato corre. Quando ele vê que o confronto é inevitável, estanca e dá uma soprada no focinho do perseguidor. E já presenciei muito cachorrão correndo da parada! É assim que devemos fazer. Vamos parar e dedicar um olhar para esse monstro consumidor que nos ameaça. Ele parece terrível porque temos medo. Ele parece monstruoso porque está na sombra... pertence à sombra da humanidade... ele é um aspecto sombrio de nós mesmos. Olhemos com destemor e veremos que o monstro se esvairá como uma bruma da manhã ao receber os raios do sol. Pois ele é feito de ilusão.
Acordemos para uma nova manhã. Sem estresses, sem neuras, sem lapsos de memória. Um novo mundo se aproxima. Abram a janela interna e sintam sua brisa chegando. Vamos todos ajudar a construí-lo?

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