segunda-feira, 16 de abril de 2012

Esteja Atento

"O alcance do que pensamos e fazemos 
é limitado pelo que deixamos de notar.
E por deixarmos de notar que deixamos de notar
pouco podemos fazer para mudar,
até que notemos
como o deixar de notar
forma nossos pensamentos e ações."
(R.D. Laing)


Será que já paramos para refletir sobre o mundo de coisas que deixamos de notar por estarmos distraídos? E - mais - será que já paramos para sentir o quanto o nosso "notar" está impregnado de julgamento? 
Recebi e repasso o texto a seguir, para nossa reflexão, da minha amiga Marilu Martinelli (http://mitologiacomentada.blogspot.com). O texto veio sem autor.



"Esteja atento a tudo, às árvores, a esta palmeira, ao céu; ao mugido das vacas, à luz sobre a folhagem, sobre esse rosto; em seguida, mergulhe seus olhos em si mesmo. Pode-se observar e ter uma consciência sem escolha de coisas externas – é muito fácil. Mas entrar no seu próprio universo interior é tornar-se consciente do que está acontecendo dentro de si – tanto de suas crenças, de seus medos, seus dogmas, suas esperanças e suas frustrações, como as de suas ambições e tudo o mais. Assim, o consciente e o inconsciente começam a se revelar. Mas para isso você deve se abster de agir. É preciso simplesmente tomar consciência das coisas, sem condenação, sem nada forçar, sem tentar mudar aquilo do que você se tornou consciente. O que você vai testemunhar se parece com a maré crescente. O aumento da maré é irresistível: nada – nem um muro ou qualquer outra coisa – pode impedir sua tremenda energia. Da mesma forma, se você prestar atenção, sem escolha ou exclusão, a totalidade da consciência começa a se implementar sob esse olhar. E a medida que se revela, devemos seguir o movimento; e isso se torna extremamente difícil, na medida em que é necessário seguir o movimento de cada pensamento, cada sentimento, cada desejo secreto. As coisas se tornam difíceis a partir do momento em que você começa a resistir, a partir do instante em que você diz “essa coisa é horrível”. “Isso é bom”. “Essa outra é ruim”. “Vou manter isso e rejeitar aquilo.” Então você começa pelo plano exterior, para passar, em seguida, para o plano interior. Você vai perceber então, ao abordar o plano interior, que os dois planos – interior e exterior – não estão dissociados, e a tomada de consciência do mundo exterior e do nosso mundo interior são idênticos. Você constatará então que vive no passado, nunca houve em sua existência um instante de vida autêntica, um momento em que não houvesse mais passado nem futuro – dito de outra forma, um momento real. Você vai descobrir que você vive perpetuamente no passado, na memória – lembranças de suas experiências, do que você era: tão inteligente, tão bom, tão ruim. Estas são as lembranças, a memória. Então você tem que entender a memória, não negá-la não sufocá-la ou fugir dela. Aquele que fez voto de celibato, por exemplo, se agarra à lembrança deste voto e quando ele se distancia desta lembrança, ele se sente culpado e toda a sua vida é como que  asfixiada. Você começa a prestar atenção em tudo e é assim que a sua sensibilidade se refina: atento à escuta, atento não só ao mundo exterior, aos gestos externos, mas também ao que está em você, a esse espírito que olha e que, portanto, sente – e quando você exerce uma atenção sem escolha, todo o esforço está ausente. É importante entender isso."

Não podemos esquecer que "estar atento" é uma das chaves para o autoconhecimento.