sábado, 7 de janeiro de 2012

O Som do Silêncio


Escrevi na postagem anterior sobre o 9º Trabalho de Hércules, quando ele consegue derrotar as aves ruidosas e devastadoras.

Já paramos para refletir sobre o imenso poder do som?

“No princípio era o Verbo”, diz a Bíblia.


Os Vedas ensinam que todo o universo manifestado foi criado com um único som de uma única sílaba, entoado por Brahma: o sagrado mantra OM.

A tradição hindu nos conta que, há milhares de anos, os sábios e os iogues (também chamados rishis), meditavam nas cavernas onde reinava o silêncio absoluto. Focalizaram suas mentes nos centros de energia do corpo (chacras), tentando captar as vibrações desses vórtices. Daí, em estado de meditação profunda, ouviram 50 diferentes vibrações dos sete chacras. Essas vibrações foram traduzidas vocalmente e transformadas em 50 letras, que deram origem ao idioma sânscrito, o mais antigo idioma da humanidade.

Dessa língua-mãe, surgiram depois todas as outras.

Os antigos iogues tinham plena consciência do poder criador do som. Por isso mesmo, usavam a palavra com parcimônia e sabedoria. Sabiam mergulhar no silêncio profícuo.

O mau uso da palavra nos trouxe ao pântano das aves dissonantes, onde estamos hoje mergulhados até a medula.

A palavra cria, a palavra destrói. O poder do som, que está à nossa disposição para dele fazermos uso como cocriadores da vida, nós o utilizamos para destruir a vida, desarmonizar a vida.

Seguimos gralhando e nem notamos que todos esses sons destoantes lançados ao vento terminam voltando para nós.

Lembrei deste conto de Paulo Coelho, bem a propósito:

“De todas as poderosas armas de destruição que o homem foi capaz de inventar, a mais terrível – e a mais covarde – é a palavra. Punhais e armas de fogo deixam vestígios de sangue. Bombas abalam edifícios e ruas. Venenos terminam sendo detectados. Diz o mestre: a palavra consegue destruir sem pistas. Crianças são condicionadas durante anos pelos pais, homens são impiedosamente criticados, mulheres são sistematicamente massacradas por comentários de seus maridos. Fiéis são mantidos longe da religião por aqueles que se julgam capazes de interpretar a voz de Deus. Procure ver se você está utilizando esta arma. Procure ver se estão utilizando esta arma contra você. E não permita nenhuma destas duas coisas.”

E não esquecer que, por mais ensurdecedor que seja o ruído das aves, nós temos a chave para neutralizá-lo. Hércules não é um mito externo. Hércules é a nossa realidade interna que precisa despertar. Hércules é o homem-deus, o representante de uma nova terra e um novo tempo.

Despertemos nosso Hércules, despertemos! Há tanto a fazer! Afugentemos os pássaros ruidosos com o maior poder que nos foi dado: o poder do som.

E lembremos sempre: é no silêncio e só no silêncio que o Eu Superior se faz ouvir.

Você tem tido tempo de escutar o seu silêncio?

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