terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012 e o Ruído das Aves


Enfim, chegou o tão esperado, propalado e profetizado 2012!

Profetas, astrólogos e videntes à parte, basta uma olhadinha nas manchetes dos jornais para constatarmos o óbvio: nosso modelo de civilização está por um fio. Os sinais de falência estão por todos os lados. No entanto, como um cão preso ao osso, ainda tentamos nos sustentar ao insustentável. Nem com respiração boca-a-boca, choque elétrico, traqueostomia ou coisa que o valha nosso sistema se salva.

Ótimo que seja assim. Ou queremos perpetuar essa interminável cadeia de equívocos onde está inserida nossa civilização?


Estamos indo aos trambolhões, como na velha música “eu não vou, vão me levando”. E vamos cada vez mais rápido. Porque o mundo tem pressa. E a própria pressa, a própria agitação já nos impedem de parar e pensar na indagação elementar: “para onde vamos?”. Não sabemos para onde vamos, simplesmente vamos. Como bois para o sacrifício, vamos.

Aqui e ali, no entanto, alguns se soltam da manada e tentam alertar os outros: “Parem! Dêem a volta! Estamos indo na contramão!”.

 Poucos escutam. Muitos dos que escutam, riem. Outros escutam e compreendem, mas já não conseguem voltar – estão comprometidos demais e acorrentados demais ao pegajoso pântano da Matrix.

O pântano, nos trabalhos de Hércules, representa o subconsciente humano e todo o lodo armazenado nele e realimentado com formas-pensamento escuras.

No nono trabalho, diante do pântano, Hércules tenta ouvir sua intuição para descobrir um meio de afastar as aves devastadoras cujo coro dissonante perturba e ameaça a paz. Inspirado pelo eu interno, o herói faz soar repetidamente dois címbalos de bronze. O som potente dos címbalos confunde os pássaros, que fogem para não mais voltar.

O que se capta desta lição é o papel proeminente do som. Pássaros e sons estão ligados ao elemento “ar”. Simbolizam a mente humana. Os pássaros representam o concentrado de pensamentos e palavras negativos, a tagarelice, o falar supérfluo.

O címbalo significa o uso correto do som. Hércules, inteligentemente, utilizou-se do mesmo instrumento (o som) para neutralizar e derrotar o inimigo. Usado de forma correta, o som cria, afastando as forças negativas, inconscientes.

A fala supérflua, a tagarelice, a palavra leviana e sem compromisso com a verdade são fruto da inconsciência. Espalham destruição. Seu ruído ensurdecedor impede que escutemos o som da alma – o címbalo.

Chegamos a 2012 e o ruído das aves está mais forte do que sempre foi. Já não o suportamos.

Mas o Hércules interno continua lá, esperando que pulemos fora da manada e tomemos as rédeas do nosso destino luminoso. 



Psiu! O címbalo está tocando. 


Pare! Silencie! 

Você consegue ouvi-lo?





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